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Como os pandas conseguem sobreviver comendo bambus

Deborah Pirchner

26 de março de 2025(atualizado 27/03/2025 às 10h59)

Ursos nativos da China chamam a atenção de pesquisadores pela sua dieta, baseada no consumo da planta

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ARTIGO ORIGINAL

Why don’t pandas eat more meat? Molecules found in bamboo may be behind their plant-based diet

Frontiers

27 de fevereiro de 2025

Autoria de: Deborah Pirchner

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FOTO: Sid Balachandran/UnsplashUrso Panda comendo folhas de bambu

Urso panda comendo folhas de bambu

O bambu é a principal fonte de alimento dos pandas, cujo sistema gastrointestinal é de um animal carnívoro. Com isso, pesquisadores das áreas de conservação e ecologia de universidades chinesas se propuseram a responder como essa espécie de urso sobrevive com uma dieta baseada em um vegetal.

Em seu artigo “Regulação trans-reino da expressão gênica em pandas-gigantes por meio de miRNA derivado de plantas”, os autores descobriram que pequenas moléculas de microRNA podem ser o motivo da adaptação dos animais a uma dieta baseada no alimento, que é um vegetal.

As moléculas de RNA provavelmente entram na corrente sanguínea dos pandas através do consumo de bambu, regulando o olfato e o paladar dos ursos, além de influenciar processos fisiológicos e comportamentais ligados aos seus hábitos alimentares.

Ursos pandas desenvolveram adaptações para consumir bambu, como os pseudo-polegares para apanhar o alimento e os dentes achatados, ideais para esmagar sua superfície rígida — o que lhes permite consumir as plantas. 

Como os pandas digerem o bambu

Todos os organismos vivos têm DNA e RNA. O primeiro armazena as informações genéticas nas células; o segundo codifica essas informações e as transporta e transfere no interior do núcleo celular para a produção de proteínas.

Os microRNAs são pequenos RNAs que utilizam a informação genética codificada para traduzi-la em proteínas, ou seja, em funções biológicas. 

Proteínas exercerem funções biológicas estruturais (formam partes do corpo), catalisam reações químicas, transportam moléculas e regulam processos biológicos, como a produção de hormônios. 

O microRNA das plantas pode ser absorvido por meio de alimentos. Os pesquisadores chineses exploraram se o microRNA derivado de plantas pode entrar nos sistemas dos pandas e regular as suas funções gênicas, possibilitando uma dieta baseada nos bambus. 

“Mostramos que os microRNAs derivados de plantas estão presentes no sangue dos pandas”, disse o Dr. Feng Li, pesquisador da Universidade Normal da China Ocidental e autor sênior do estudo publicado na Frontiers in Veterinary Science

“Nosso estudo provou que o bambu, usado como alimento pelos pandas, pode alterar seus hábitos alimentares e a maneira como digerem alimentos.”

Uma questão de gosto

Os pesquisadores coletaram amostras de sangue de sete pandas, incluindo três fêmeas adultas, três machos adultos e uma fêmea ainda em desenvolvimento.

Nessas amostras, eles encontraram 57 microRNAs que provavelmente eram derivados do bambu.

“O microRNA do bambu pode entrar no corpo dos pandas por meio da dieta e ser absorvido pelo intestino. Ao entrar na circulação sanguínea, o microRNA desempenha um papel na regulação da expressão gênica do RNA dos pandas gigantes” explicou Li. 

MicroRNAs derivados de plantas podem regular diferentes processos fisiológicos, como crescimento e desenvolvimento, metabolismo, comportamento e respostas imunológicas.

“O microRNA do bambu também está envolvido na regulação do olfato, do paladar e das vias de dopamina dos pandas gigantes, todos relacionados aos seus hábitos alimentares”, disse o pesquisador. 

Os autores acreditam que, na medida em que os pandas comem mais bambu, as moléculas se acumulam, modulam a expressão gênica e ajudam na adaptação dos ursos ao sabor do bambu. 

As moléculas de microRNA podem influenciar o olfato dos pandas, permitindo que eles escolham as partes mais frescas e nutritivas das plantas de bambu. 

Dessa forma, o próprio consumo do bambu pode facilitar a adaptação dos pandas a uma dieta “quase herbívora”. 

Das plantas para os animais

Os pesquisadores também descobriram que as moléculas de microRNA presentes no sangue dos pandas variam entre as faixas etárias e o sexo dos animais. 

“Apenas os microRNAs que podem desempenhar um papel específico na regulação da expressão gênica permanecem no corpo, enquanto os que não têm essa função são eliminados”, disse Li. 

Por exemplo, alguns microRNAs regulam os processos reprodutivos, portanto, só podem ser encontrados no sangue de pandas de um determinado sexo ou idade.

A capacidade dos microRNAs de transmitir sinais das plantas para os animais pode abrir portas para o estudo do tratamento e da prevenção de doenças animais.

“Os microRNAs de plantas podem participar da regulação do sistema imunológico animal, aumentando sua resistência a doenças”, destacou Li.

Da mesma forma, o estudo das alterações introduzidas por esses microRNAs pode ajudar a avaliar e melhorar a segurança de alimentos

de origem vegetal para animais e seres humanos, disseram os pesquisadores. 

No entanto, são necessárias mais pesquisas para tirar conclusões definitivas sobre o potencial do microRNA em geral e os efeitos que ele pode ter sobre os pandas.

“O panda é um tesouro nacional muito precioso em nosso país, e não é fácil obter amostras de sangue. Se possível, esperamos coletar amostras de sangue de pandas jovens que ainda não tenham comido bambu para a pesquisa e, talvez, obter resultados mais definitivos”, concluiu Li. 

Este texto foi traduzido com a ajuda de um programa de inteligência artificial. O conteúdo foi revisado e editado pela equipe do Nexo.

A seção “Externo” traz uma seleção de textos cedidos por outros veículos por meio de parcerias com o Nexo ou licenças Creative Commons.

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