Bolsonaro depõe à PF e diz que Moro negociou vaga no Supremo
Da Reuters
04 de novembro de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h30)Presidente negou ter interferido na Polícia Federal para proteger aliados e familiares. Segundo ele, o então ministro não se oporia à troca na cúpula da corporação desde que fosse indicado ao tribunal
Após 16 meses no governo, ex-juiz Sergio Moro deixou ministério da Justiça fazendo acusações graves contra Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal na noite de quarta-feira (3) no inquérito que investiga se ele interferiu na cúpula da corporação. Bolsonaro foi interrogado presencialmente às vésperas do fim do prazo de 30 dias determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal.
Questionado sobre a suspeita de interferência, apontada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro, Bolsonaro negou que a mudança na direção da Polícia Federal em abril de 2020 tenha relação com o interesse de obter informações privilegiadas em investigações sigilosas, de interferir no trabalho da corporação ou ainda de obter diretamente relatórios produzidos pela polícia, como acusou Moro quando deixou o governo .
O ex-juiz da Lava Jato atribuiu seu pedido de demissão do Ministério da Justiça à decisão presidencial de exonerar o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Segundo Moro, a exoneração não teria base técnica e se justificaria pela intenção de Bolsonaro de controlar as atividades da Polícia Federal a fim de proteger aliados e familiares investigados. No depoimento, o presidente afirmou que Moro quis negociar as mudanças na cúpula da polícia em troca de uma nomeação ao Supremo. Segundo Bolsonaro, o então ministro estava de acordo com todas as decisões envolvendo a Polícia Federal desde que posteriormente fosse indicado a uma vaga no tribunal.
Em nota divulgada nesta quinta-feira (4), Moro contestou a afirmação de Bolsonaro. O ex-juiz disse que jamais negociou uma vaga para o tribunal. “Não troco princípios por cargos”, afirmou.
Bolsonaro ainda procurou explicar o que quis dizer quando afirmou “eu tenho a PF que não me dá informações” em reunião ministerial no Palácio do Planalto realizada em 22 de abril de 2020. “O declarante quis dizer que não obtinha informações de forma ágil e eficiente dos órgãos do Poder Executivo, assim como da própria Polícia Federal; que quando disse ‘informações’ se referia a relatórios de inteligência sobre fatos que necessitava para a tomada de decisões e nunca informações sigilosas sobre investigações”, indica a transcrição do depoimento. O motivo alegado pelo presidente para fazer a troca foi “falta de interlocução” com Valeixo.
A decisão de Bolsonaro de depor no inquérito que apura a suspeita de interferência na Polícia Federal ocorreu no início de outubro, após a AGU (Advocacia Geral da União) ter informado ao Supremo que o presidente passara a ter interesse em ser ouvido presencialmente — ele antes tentou ser dispensado de depor e também propôs responder perguntas por escrito. O anúncio, comunicado ao ministro Alexandre de Moraes, levou à suspensão do julgamento no Supremo do recurso que iria decidir o formato do depoimento de Bolsonaro.
O inquérito que apura se houve interferência na Polícia Federal foi aberto no fim de abril de 2020 pelo agora aposentado ministro Celso de Mello, então relator do caso no Supremo, a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras. Essa foi a primeira investigação contra Bolsonaro em seu mandato. Ao todo, ele é investigado em cinco inquéritos no Supremo e no Tribunal Superior Eleitoral.
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