Esquema no MEC envolvia compra de Bíblias, dizem prefeitos
Da Redação
24 de março de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h25)Pastor teria condicionado visita de ministro à compra de versões comentadas do livro cristão assinadas por colega de lobby. Governantes voltam a falar em pedidos de propina para liberação de recursos da pasta
Arilton Moura (à dir.) participa de evento no Palácio do Planalto. Sentados no banco, estão também o ministro Luiz Eduardo Ramos (no centro) e o pastor Gilmar Santos (à esq.). Jair Bolsonaro discursa de pé.
Prefeitos afirmam que o esquema para a liberação de recursos do MEC (Ministério da Educação) envolvia a compra de Bíblias para serem distribuídas nos municípios visitados pelo ministro Milton Ribeiro. A revelação foi feita pelo jornal O Globo nesta quarta-feira (23) e reforçada por áudios obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo no mesmo dia.
Segundo os prefeitos Professor Kelton (Cidadania), de Bonfinópolis (GO), e José Manoel de Souza (PP), de Boa Esperança do Sul (SP), o pastor Arilton Moura pediu propinas em reuniões em Brasília para liberar recursos para obras. A Kelton, o religioso teria pedido R$ 15 mil e a compra de mil Bíblias a R$ 50 para serem distribuídas no município goiano. As edições indicadas eram versões comentadas do livro cristão assinadas pelo pastor Gilmar Santos, que ao lado de Arilton, era o responsável por um esquema de intermediação de verbas do MEC com a anuência do ministro Ribeiro.
Souza também confirmou um pedido de propina feito por Arilton para liberar verbas para construir uma escola profissionalizante em Boa Esperança do Sul. As revelações de Kelton e Souza são mais indícios de que Arilton pedia propinas para intermediar recursos do MEC. Na terça-feira (22),o prefeito Gilberto Braga (PSDB), de Luis Domingues (MA), afirmou que Arilton Moura pediu 1 kg de ouro para atender o município governado por ele.
“Ele disse: eu falo lá, já faz um ofício, mas você tem que fazer um depósito de R$ 40 mil para ajudar a igreja”
Os pastores Gilmar e Arilton fazem parte da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil e, mesmo sem exercer cargos públicos, acompanharam Milton Ribeiro, que além de ministro é pastor presbiteriano, em uma série de visitas a cidades Brasil afora. Em uma reunião no MEC, Ribeiro chegou a falar a prefeitos e assessores que priorizava assistência a cidades indicadas pelos dois pastores. Segundo ele, isso seria um pedido do presidente Jair Bolsonaro. A fala consta em um áudio obtido pelo jornal Folha de S. Paulo , que veio a público na segunda-feira (21).
As revelações geraram uma série de reações contrárias de opositores, governistas e até da bancada evangélica no Congresso, que não é ligada a Gilmar e Arilton. Na quarta-feira (23), o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo a abertura de um inquérito contra Ribeiro pelos crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, prevaricação e advocacia administrativa. O ministro nega ter atuado para favorecer pastores, diz que segue critérios técnicos para liberar recursos da pasta e que nunca recebeu qualquer pedido de Bolsonaro para priorizar quem quer que fosse.
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