FOTO: AMANDA PEROBELLI/REUTERS – 10.MAR.2021

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022, disse na terça-feira (26) que “o mundo está chato para cacete” e que “todas as piadas agora viraram politicamente erradas ”. A fala ocorreu em uma entrevista concedida por Lula – que em abril lidera pesquisas de intenção de voto – a youtubers e jornalistas.

A fala foi parte da resposta a uma pergunta do youtuber Ronny Teles sobre o diálogo com eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 e estratégias de comunicação na campanha presidencial de 2022. No vídeo abaixo, que traz a transmissão completa, o trecho com a pergunta e a resposta tem início em 2h16min e vai até aproximadamente2h34min.

Nos primeiros minutos da resposta, Lula falou sobre a estratégia de comunicação de Bolsonaro e defendeu a ideia de “restabelecer a verdade” e abrir diálogo com diferentes partes da população brasileira. Depois, afirmou que está sendo criticado por todos os lados, e defendeu “ sobriedade” na política. “Nós queremos um mundo multipolar que tenha 500 pessoas discutindo na mesa”, disse. Ao continuar, disse que essa conversa deve incluir, também, pessoas que fazem piadas que podem ser lidas como ofensivas. Lula, que é pernambucano, deu nordestinos como exemplo.

“Aí sim vamos ter um mundo feliz. O cara contando piada de nordestino e eu rindo. Eu contando piada de outras pessoas e a pessoa rindo. Está proibido contar piada. O mundo está chato para cacete. O mundo está pesado. Todas as piadas agora viraram politicamente erradas. Então não tem mais graça. Se você quiser dar risada, vê esses programas de humorismo chatos para cacete na televisão. Me parece que depois que Chico Anysio morreu, desapareceram os humoristas no Brasil. É assim… Mas fique tranquilo que estou animado e nós vamos ganhar”

Luiz Inácio Lula da Silva

ex-presidente e pré-candidato ao Planalto

O conceito de “politicamente correto” não é bem definido. Ao longo da história , ele já foi usado com conotação mais positiva ou negativa, e adotado de forma irônica ou séria. Recentemente, passou a ser usado especialmente por quem critica a ideia de que é preciso ter cuidado para não reproduzir estereótipos e preconceitos na fala e na cultura.

Essa crítica ao “politicamente correto” virou uma bandeira da extrema direita nos EUA e no Brasil. Na sua posse como presidente em 2019, Jair Bolsonaro falou que o “povo” brasileiro começava ali a se “libertar do politicamente correto”.O presidente acumula falas pejorativas contra diferentes grupos, que são com frequência criticadas por opositores e exaltadas por apoiadores. Em fevereiro de 2022, por exemplo, Bolsonaro chamou assessores nordestinos de “pau de arara ” durante uma live e depois justificou o uso da expressão como uma piada entre conhecidos .

A declaração do petista foi criticada pelo também pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT), que disse nas redes sociais: “É pra rir ou pra chorar ?”. Mas teve bem menos repercussão entre eleitores da esquerda do que comentários parecidos feitos por Bolsonaro.A fala ocorreu poucos dias após o PT demitir o marqueteiro da pré-campanha de Lula, criticado por quadros internos por falhas na estratégia de comunicação nas redes e com públicos mais jovens.

Continue no tema

• Expresso : O uso do “politicamente incorreto” na política
• Podcast : A pré-campanha de Lula em abril de 2022
• Expresso : As origens do “politicamente correto”