Bolsonaro confronta a lei e ataca aborto em criança de 11 anos
Da Redação
24 de junho de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h34)Presidente afirmou nas redes sociais que procedimento permitido em lei é ‘inadmissível’. Menina estuprada interrompeu gravidez depois de ter sido impedida pela Justiça de Santa Catarina
Presidente Jair Bolsonaro na Cúpula das Américas, nos Estados Unidos
Jair Bolsonaro criticou nas redes sociais na quinta-feira (23) o aborto legal que uma menina de 11 anos realizou no dia anterior em Santa Catarina, depois de ter sido estuprada e impedida por semanas pela Justiça de realizar o procedimento. O presidente afirmou que o procedimento é “inadmissível” e que solicitou ao Ministério da Justiça e ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que apurem eventuais “abusos” na permissão da interrupção da gravidez.
- Um bebê de SETE MESES de gestação, não se discute a forma que ele foi gerado, se está amparada ou não pela lei. É inadmissível falar em tirar a vida desse ser indefeso!
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 24, 2022
A interrupção da gravidez no caso citado por Bolsonaro é permitida no Brasil . Pelo Código Penal, que tem uma das legislações mais restritivas do mundo em relação ao tema, mulheres podem abortar em duas situações: q uando não há outro meio de salvar a vida da mulher e quando a gravidez é resultado de um estupro. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o aborto também é legal quando o feto tem anencefalia (ausência total ou parcial de cérebro). A lei não estabelece um limite de tempo de gestação para o procedimento.
Além de ter sido estuprada, a menina que interrompeu a gravidez na quarta (22) em Santa Catarina enfrentava uma gravidez de risco — como costuma acontecer com crianças como ela. Laudos médicos e da psicóloga que acompanhava a garota mostravam que havia riscos físicos para prosseguir com a gestação — como hemorragias, anemia grave e histerectomia (procedimento irreversível de retirada do útero) — e que a realização de uma cesariana seria arriscada tanto para ela quanto para o feto, que teria poucas chances de sobreviver.
O caso da menina de 11 anos foi revelado na segunda-feira (20) pelo jornal The Intercept Brasil e pelo portal Catarinas. Segundo a reportagem, quando descobriram a gravidez, a menina e sua mãe procuraram um hospital em Florianópolis para fazer o aborto legal. A unidade de saúde pediu uma autorização judicial para realizar o procedimento, pois a gestação estava avançada — tinha 22 semanas —, mas a Justiça negou. No lugar, para evitar o aborto, a juíza Joana Ribeiro Zimmer, então titular da 1ª vara cível da cidade de Tijucas, em Santa Catarina, enviou a menina a um abrigo.
O caso, que teve repercussão nacional, ilustra parte das dificuldades que mulheres têm para realizar um aborto no Brasil, mesmo nos casos previstos em lei. Entre esses problemas, estão a falta de informação sobre o serviço e a escassez de locais capacitados para realizá-lo. Na terça-feira (21), a menina pôde deixar o abrigo em que estava e voltar a viver com a mãe. Depois de uma recomendação do Ministério Público Federal em Santa Catarina, o Hospital Universitário da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) realizou o aborto.
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