Bolsonaro transforma púlpito em palanque no discurso da ONU

Da Redação

20 de setembro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h42)

Em seu quarto discurso de abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, presidente atacou PT, exaltou economia brasileira e elencou medidas de seu governo

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FOTO: BRENDAN MCDERMID/REUTERS – 20.SET.2022

O presidente Jair Bolsonaro em discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU

O presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou nesta terça-feira (20) na abertura da 77ª Sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York (EUA). Em 21 minutos, disse que a economia do país está em ascensão e que o Brasil é exemplo de proteção ambiental e de defesa dos direitos humanos.

Este foi o quarto discurso de Bolsonaro na Assembleia-Geral desde que ele tomou posse como presidente do Brasil, em janeiro de 2019. Em todas as ocasiões, Bolsonaro atacou países governados pela esquerda na América Latina e vendeu uma versão fantasiosa do Brasil, sobretudo na área do meio ambiente, ponto fraco da sua imagem no exterior.

O presidente inflou sua popularidade ao tratar de questões da política doméstica brasileira, num momento em que ele encontra dificuldades para deslanchar nas pesquisas e em que uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em primeiro turno é apontada como possível . Bolsonaro atacou Lula sem citar seu nome, dizendo que elefoi condenado em três instâncias. O ex-presidente, no entanto, foi inocentado.

“No meu governo extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país. Somente no período entre 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político e desvios chegaram na casa dos US$ 170 bilhões. O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade. Delatores devolveram US$ 1 bilhão e pagamos para a Bolsa americana outro bilhão por perdas de seus acionistas. Esse é o Brasil do passado”

Jair Bolsonaro

presidente do Brasil em discurso na ONU nesta terça-feira (20)

Horas antes do discurso, projeções idealizadas por opositores de Bolsonaro apareceram nas paredes do prédio da ONU. Elas chamavam o presidente de “vergonha” e “desgraça”.

Antes de Bolsonaro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, discursou, dando destaque especial às questões ambientais e à crise climática. “Precisamos proteger o meio ambiente para nós e para o futuro. Nossas decisões coletivas serão decisivas”, disse.

Discurso eleitoral

A maioria dos chefes de Estado que discursam no púlpito da organização falam sobre grandes temas que desafiam a humanidade, geralmente correlatos aos temas centrais da Assembleia-Geral – que em 2022 são crise climática e conflitos armados .

Bolsonaro, assim como em outros anos, fez um discurso relacionado a seus interesses na política interna. A sua fala encorpa os argumentos de seus opositores de que ele usa eventos aos quais comparece como chefe de Estado para fazer campanha eleitoral. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) já proibiu, por exemplo, o uso de imagens dos eventos do bicentenário da Independência e da sua passagem por Londres para o funeral da rainha Elizabeth 2ª em propagandas do presidente.

Apesar disso, Bolsonaro pediu durante sua fala um cessar-fogo imediato na Ucrânia, que foi invadida pelos russos em fevereiro, e uma reforma do C onselho de Segurança da ONU.

Em 2022, o presidente brasileiro tenta a reeleição e aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, com dificuldades para atingir eleitores de fora do seu grupo de apoiadores. Segundo pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira (19) inscrita no TSE sob o número 00073/2022, o presidente tem 31% das intenções de voto , sem registrar crescimentos nas últimas semanas. A rejeição a seu nome é de 69% do eleitorado.

No discurso na Assembleia-Geral, Bolsonaro disse que seu governo combateu a corrupção. Ele aproveitou o tema para atacar Lula e o PT, ignorando as investigações e denúncias que já foram feitas contra ele e contra pessoas de seu entorno.

Brasil de Bolsonaro

Outro eixo importante do discurso foi o da questão ambiental, pelo qual o Brasil é cobrado com contundência por líderes de outros países.

Bolsonaro disse que dois terços do território nacional contam com vegetação nativa – “tal qual quando o Brasil foi descoberto em 1.500”. Apesar de 66,3% do país ser coberto com vegetação nativa, o percentual não é totalmente conservado. Do total, apenas 29% estão em Unidades de Conservação, Áreas de Proteção Ambiental e Terras Indígenas. Na prática, a maior parte dessa vegetação pode vir a ser desmatada no curto e médio prazo.

Bolsonaro também falou de economia. Aos presentes, ele vendeu a imagem de que a crise socioeconômica no Brasil não é grande. Para isso, comparou os preços de bens e serviços oferecidos no país usando a comparação com o dólar, mas não levando em consideração o poder de compra da população.

“A pobreza aumentou em todo o mundo sob impacto da economia. No Brasil, já começou a cair de forma acentuada”, afirmou. Ele levou em conta dados macroeconômicos, como o aumento do PIB (Produto Interno Bruto), mas desconsiderou a desigualdade de uma população em que mais de 33 milhões de cidadãos passam fome .

O presidente também exaltou o agronegócio do país, em um aceno para uma de suas bases mais leais. “Se não fosse o agronegócio brasileiro, o planeta passaria fome. O agronegócio é orgulho nacional.”