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FOTO: TOBY MELVILLE/REUTERS – 29.11.2021<div id="attachment_40168" style="width: 610px" class="wp-caption aligncenter"><img decoding="async" aria-describedby="caption-attachment-40168" width="2560" height="1726" src="https://nexo-uploads-beta.s3.amazonaws.com/wp-content/uploads/images/2023/11/29201901/Barbados_bandeira_binary_267637-scaled.jpeg" class="attachment-full size-full" alt="Bandeiras do Reino Unido e de Barbados tremulando lado a lado contra um céu azul, de poucas nuvens" loading="lazy" />Bandeiras do Reino Unido (esq) e de Barbados tremulam lado a lado e, Bridgetown</div>
Barbados pôs fim na madrugada desta terça-feira (30) à regência da monarquia britânica que por <a href="https://www.theguardian.com/world/2021/nov/30/at-the-stroke-of-midnight-barbados-becomes-the-worlds-newest-republic">396 anos</a> perdurou sobre a ilha caribenha, que tem pouco mais de 280 mil habitantes – o equivalente aproximado à população de Governador Valadares, em Minas Gerais, ou de Barueri, em São Paulo.
A mudança de status de Barbados marca o fim de uma era monárquica e o início de uma era republicana, num tipo de transição de regime que foi mais comum nos séculos 18 e 19 do que no século 21. O país já era independente do Reino Unido desde 1996, mas, oficialmente, funcionava sob o poder – em grande medida, apenas simbólico – da Coroa Britânica.
Neste texto, o Nexo conta a história de Barbados e mostra como essa transição republicana se insere no momento que o país vive (com uma pandemia que golpeia o turismo) e no momento que o Reino Unido vive (em que a comunidade de suas ex-colônias ganha importância renovada após o desligamento da União Europeia). 
<h2>Qual a história de Barbados</h2>
Barbados é a mais oriental de todas as ilhas do Caribe, e também um dos principais destinos turísticos da região. Seu território total (431 km2), cabe 3,5 vezes dentro da superfície da cidade de São Paulo (1.521 km2) e seu primeiro registro num mapa ocorreu em 1511.
Originalmente, a ilha era habitada por povos ameríndios, mas, no século 16, passou pelas mãos de espanhóis e de portugueses, até ser tomada pelos britânicos que, no século 17, estabeleceram ali uma cultura de plantation com mão de obra escravizada trazida da África – razão pela qual 91% da população é negra. 
<img decoding="async" width="1000" height="1300" src="https://nexo-uploads-beta.s3.amazonaws.com/wp-content/uploads/images/2023/12/19151621/Mapa_Barbados_binary_267638.png" class="attachment-full size-full" alt="Mapa mostra a localização de Barbados, no Caribe" loading="lazy" />
A independência de Barbados só ocorreu em 1996. Na prática, a ilha se tornou independente, mas manteve lealdade à Coroa Britânica – o que significa que a Rainha Elizabeth 2ª manteve o status de monarca da ilha, com a administração sendo tocada por um representante da Coroa eleito localmente, chamado de governador-geral.
A ligação com a Coroa era em grande medida simbólica. O mais importante, em termos práticos, foi a permanência de Barbados na Commonwealth, que é o nome dado ao clube de países que um dia pertenceram ao Império Britânico, e atualmente mantêm conexões privilegiadas entre si, no que diz respeito às relações políticas, diplomáticas, migratórias e econômicas.
Em setembro de 2020, o governo local manifestou a intenção de proclamar a fundação de uma República, instituindo o cargo de presidente e afastando Elizabeth 2ª da estrutura política do país. 
Agovernadora-geral Sandra Mason, após uma votação do Parlamento em 21 de outubro, tornou-se, em 30 de novembro, a primeira presidente da história do país. “Chegou a hora de deixarmos para trás completamente nosso passado colonial. Os barbadianos querem uma chefe de Estado barbadiana”, anunciou Mason.
O país se tornou uma república parlamentarista, com o Poder Executivo exercido por um governo formado pela presidente, Sandra Mason, e uma primeira-ministra, que desde 2018 é Mia Mottley.
A presidente é a chefe de Estado, cargo que não existia como tal até então, pois era ocupado pela Rainha Elizabeth 2ª, dentro da lógica do sistema de parlamentarismo monárquico.Já a primeira-ministra, Motley, tem a função de chefiar o gabinete de ministros. A escolha do ocupante do cargo é feita com base na indicação do partido que possuir a maior bancada parlamentar, com anuência simbólica da presidente.
O Parlamento de Barbados é bicameral, o que significa que o país tem uma Câmara Baixa (Câmara dos Deputados) e uma Câmara Alta (Senado). O Judiciário reproduz as linhas gerais do sistema britânico.
<h2>O significado para o Reino Unido </h2>
Para o Reino Unido, a proclamação da República em Barbados é uma perda – embora mais simbólica do que política ou econômica. Essa perda ocorre no momento em que os britânicos buscam redesenhar seu papel no mundo, após o já longínquo fim do Império Britânico, e, mais recentemente, após seu desligamento da União Europeia, no chamado Brexit, que foi levado a cabo em janeiro de 2020.
A reabilitação da Commonwealth pode ser um caminho para conectar o Reino Unido a um bloco que não seja a União Europeia. Porém, o caminho é, além de nostálgico, também incerto, dado o que especialistas em relações internacionais chamam de uma coligação <a href="https://www.cfr.org/backgrounder/global-britain-and-commonwealth-nations">“ultrapassada e ineficiente”</a> de países-membros. 
O príncipe Charles, filho mais velho de Elizabeth 2ª, esteve presente na cerimônia de oficialização da República, realizada em Bridgetown, capital de Barbados, sem a presença de público por causa da pandemia. Outra presença conhecida na cerimônia foi a da cantora Rihanna, que é a personalidade barbadiana mais conhecida.
<blockquote class="">
“Dos dias mais sombrios de nosso passado e da terrível atrocidade da escravidão que mancha para sempre nossa história, o povo desta ilha abriu seu caminho com extraordinária força”
</blockquote>
Príncipe Charles
Filho mais velho da Rainha Elizabeth 2ª, que foi a chefe de Estado de Barbados até 30 de novembro de 2021
<h2>Qual o significado para Barbados</h2>
A nova presidente reconheceu que Barbados se lança ao mundo como uma república completamente independente no meio de um período especialmente turbulento, por causa da pandemia.
A economia do país é movida pelo turismo e pelos empreendimentos imobiliários que acompanham esse setor. Além disso, Barbados é um paraíso fiscal procurado por milionários e bilionários interessados em driblar regras do fisco em seus países de origem.
A pandemia impactou negativamente a economia da ilha. A queda no número de visitantes afetou diretamente a geração de empregos num setor que responde por 40% dos postos de trabalho ocupados por moradores locais. Em junho de 2021, o Banco Mundial fez um <a href="https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2021/06/24/world-bank-approves-us-100-million-for-barbados-covid-19-response-and-recovery">repasse de U$ 100 milhões</a> para socorrer a economia de Barbados.
O jornal britânico The Guardian diz que <a href="https://www.theguardian.com/world/2021/nov/30/at-the-stroke-of-midnight-barbados-becomes-the-worlds-newest-republic">60% dos barbadianos</a> preferiam a proclamação da República, e apenas 10% se diziam defensores fervorosos da manutenção dos status monárquico. 
A publicação traz depoimentos de moradores de Barbados que diziam se sentir diminuídos como cidadãos por ter de jurar lealdade a uma líder estrangeira – a rainha Elizabeth 2ª. Porém, a opinião geral é de que o tema não desperta paixões, contra ou a favor, mesmo que, nos últimos anos, grupos de jovens locais tenham protagonizado manifestações que punham a questão racial e a luta anti-colonial em primeiro plano.
A decisão de proclamar a República foi tomada pelo governo barbadiano, não por meio de referendo ou plebiscito. Esse desejo era expresso pelos diferentes líderes do país desde os anos 1990, mas a efetivação sempre foi vista como um esforço simbólico que poderia acarretar riscos desnecessários.
A emancipação total acabou ocorrendo, como remarcou a nova presidente, num momento particularmente “complexo, fraturado e turbulento” para o mundo, e para Barbados especialmente.
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