Visto em retrospecto, o ano de 1968 aprofundou o impacto político de uma série de contestações culturais e comportamentais que vinham se consolidando ao longo daquela década.

Foi sobretudo um ano de crise e combate: movimentos sociais tomaram as ruas de toda a Europa, a partir da mobilização estudantil nos arredores de Paris; houve manifestações nos Estados Unidos contra a guerra do Vietnã e persistiram, com novo fôlego, os conflitos no Oriente Médio entre Israel e seus vizinhos. Regimes autoritários na América Latina também eram combatidos, e os protestantes eram reprimidos com violência. Sindicatos, organizações sociais e coletivos culturais foram tomados por jovens dispostos a fazer política de forma multidirecional, coletiva e horizontalizada.

Foi ainda o ano do assassinato de Martin Luther King Jr., ativista americano pelos direitos civis dos negros, morto durante a greve dos lixeiros em Memphis, no Tennessee, e de Robert Kennedy, em um hotel em Los Angeles. O senador pelo estado de Nova York e irmão do ex-presidente John F. Kennedy acabava de ser escolhido candidato do Partido Democrata à presidência americana.

Estados Unidos e Inglaterra, países na vanguarda da contracultura, continuaram a exportar ideias, sons e significados. Por excelência, a canção popular era o veículo de protesto da juventude. Mas se nos anos anteriores havia uma sensação de euforia e liberdade — 1967, afinal, fora o Verão do Amor —, em 1968 o clima ficou pesado. Enquanto alguns cantavam o amor e a luta de forma esperançosa, muitos artistas já prenunciavam o ocaso do movimento hippie e uma era de mais contestação.

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