Um guia de como parar de matar plantas em casa
Murilo Roncolato
06 de dezembro de 2016(atualizado 28/12/2023 às 22h31)Especialistas dão dicas para quem está cansado de ter hortas, plantas e flores morrendo sob seus cuidados
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‘Natureza morta com oleandros’ (1888), de Vincent Van Gogh
Cultivar plantas pode ter efeito gratificante, caso tudo corra como se esperaria de alguém com “dedo verde”; ou frustrante, sentimento conhecido de quem passou a questionar a própria capacidade de manter até um simples cacto vivo em casa.
O caso é que plantas são seres vivos que exigem cuidado, cada uma à sua maneira. Distinguir qual suportaria viver com pouco ou muito sol, pouca ou muita água, na janela ou decorando a mesa, não é mera bobagem. Os modos de plantio e manutenção –diária, em alguns casos– variam. Os “sinais” dados pelas plantas do seu estado de saúde também; cabe a cada um aprender como notá-los .
Abaixo, uma relação de dicas sobre quais plantas são mais indicadas para cada casa, recomendações sobre como plantá-las, mantê-las, identificar problemas e, em último caso, reanimá-las.
Uma planta pode estar morrendo na sua casa por culpa… da sua casa. Isso porque luz, espaço e ventilação são fatores elementares para o sucesso ou fracasso de uma planta. A avaliação sobre a estrutura da casa ou apartamento não vai necessariamente resultar em conclusões radicais como “você pode (ou não) ter plantas”, mas ajudarão a responder a questão que realmente deve ser feita: quais plantas você pode ter?
Segundo o paisagista e engenheiro agrônomo Fabricio Sbruzzi, o primeiro fator a ser levado em conta é a luz. “A condição da casa é fundamental. Ela tem área com sol pleno ou é só claridade? Ou ainda é um espaço que não tem nem claridade, mas só luz artificial? Isso limita as possibilidades de espécies”, diz.
Qualquer área de sol pode ser aproveitada
Isso porque há plantas que dependem de sol direto (ou sol pleno), enquanto outras já não são muito amigas da luz direta e preferem lugares com menos incidência solar (as chamadas plantas de meia-sombra), e outras que se viram bem em ambientes internos com pouca claridade. Plantas que costumam ser cultivadas em hortas, de tempero (hortelã, salsa, cebolinha, tomilho ou manjericão), verdura (como alface, espinafre, rúcula, etc) ou frutíferas (como tomate ou pimenta), dependem de sol direto.
“Não adianta bater só luz, tem que ter sol. Ambiente fechado nem pensar. A sugestão é colocar a horta em um espaço aberto, como uma varanda, que pegue pelo menos 6 horas de sol por dia”, diz Sbruzzi.
Para quem não tem esse tempo de sol todo em casa, é recomendável passar a olhar para plantas de sombra ou meia-sombra que são menos trabalhosas, sugere Fernanda Danelon, fundadora do Instituto Guandu, que promove a agricultura urbana de forma sustentável. “Plantas de horta são mais sensíveis, dependem de maior adubação, rega e sol. Já as de meia-sombra se adaptam a espaços internos e vão demandar um cuidado praticamente mínimo e menos de duas horas de sol por dia”, diz.
Plantas de sombra ou meia-sombra (ou sombra parcial) podem ser identificadas pela folhagem, normalmente de tom verde escuro, ensina Danelon. Alguns exemplos são Espada-de-são-jorge, Pata-de-elefante, Costela-de-adão, Chifre-de-veado, Antúrio, Lírio-da-paz, cactos e suculentas em geral ou ainda espécies de flor, como orquídeas, begônias e violetas.
Orquídeas vivem bem mesmo sem muito tempo de sol
No caso de lugares sem sol direto ou sequer claridade, a saída é partir para um sistema de estufa de iluminação artificial com lâmpadas de filtro ultravioleta. “Isso é necessário para que a planta faça fotossíntese, mas como se trata de um processo complicado, eu costumo desaconselhar a pessoa que gostaria de ter planta em um local assim”, diz Fabricio Sbruzzi.
Outro fator sobre o local é a ventilação e abrigo, em caso de chuva, por exemplo. “Se é um lugar que bate sol, mas é fechado, como uma varanda toda fechada de vidro, há plantas que se adaptam melhor. Já uma varanda aberta onde ventila, chove etc, é outro tipo de planta que vai resistir melhor”, diz Sbruzzi.
Definidas as plantas que você –ou a sua casa– é capaz de ter, o passo seguinte é escolher: semente ou muda? Apesar de ser um processo interessante o de ver uma semente se transformar em uma planta madura, optar por cultivar –uma horta, por exemplo– partindo de sementes é um trabalho em dobro. Por isso, para quem já tem dificuldade em manter uma planta viva, a recomendação é arriscar-se com uma que já esteja, digamos, “melhor encaminhada”.
“Outra coisa é ver se ela vai estar no chão com terra, em laje, em jardineira ou vaso. Tem que saber escolher a planta em função disso também”, lembra o paisagista Fabricio Sbruzzi. A razão é o espaço que a planta terá à disposição conforme for crescendo. Um vegetal com potencial de grande porte em um vaso pequeno pode não ficar com boa aparência ou até morrer.
Jardineiras ou vasos devem ter uma profundidade proporcional à do tamanho da planta e contar com furos que garantam o escoamento de água, além de espaço suficiente para pequenos cuidados com a terra. É recomendável ainda o uso de argila expandida (ou pedra) e manta de bidim; uma para reduzir a umidade da terra e a outra para impedir que a terra entupa o fundo dos vasos.
Cactos e suculentas precisam de sol, mas vivem bem sem muita água
A terra usada no vaso também importa. O ideal para o chamado período de adaptação –quando a muda comprada é plantada em vaso, jardineira ou no chão– é preparar uma mistura de terra preta e adubo (como húmus de minhoca), encontrados facilmente em lojas especializadas, tomando cuidado para evitar o contato direto do adubo com as raízes. Feito o plantio, é importante fazer uma rega diária ao longo da primeira semana.
Há que se levar em conta que há plantas que não vivem bem no mesmo espaço. Principalmente no caso de hortaliças, a dica dos especialistas é plantá-las em vasos ou jardineiras separadas. Se a horta for feita em terreno, é recomendável dar uma distância de cerca de 20 cm entre elas.
Se o roteiro descrito até este ponto já foi seguido à risca outras vezes e o fim da história, mesmo assim, foi negativo para a planta, o problema está na manutenção da vida do vegetal. Nesta etapa, algumas boas práticas devem ser observadas com atenção, como a rega, a adubação e a poda.
A quantidade de água usada na rega é, quase sempre, a razão do insucesso com plantas. Ora pecando pela falta, ora pelo excesso. “Pela minha experiência, as pessoas matam a planta mais por falta de rega. Por isso digo sempre que é pior regar demais do que de menos”, diz Fernanda Danelon.
A frequência sugerida, de maneira geral, é fazer a rega três vezes por semana. É claro que esse ritmo deve variar de planta para planta –cactos e suculentas têm uma necessidade menor de água, bem como as de sombra ou meio-sombra– e de época para época.
Durante o verão, a terra seca mais rápido e as folhas podem também ficar cobertas por poeira. Nessas situações, pode-se aumentar a dose e ainda borrifar água nas folhas –atentando para o horário, preferencialmente no início da manhã e no fim da tarde, para que o sol não as queime.
Horários ideais para rega é no início da manhã e no fim da tarde
Um truque para nunca errar a medida de água é afundar o dedo na terra. “O ‘dedômetro’ nunca falha. O ideal é apostar no meio termo: a terra não pode estar nem muito molhada, nem seca”, aconselha Danelon.
Para o jardineiro menos experiente, pode parecer estranho recomendar o corte de folhas e galhos maduros para que a planta cresça melhor, mas a verdade é que se trata de uma prática necessária e eficiente.
“O bom é arrancar com a mão ou uma tesourinha folhas amareladas, velhas e até galhos muito grossos, que pegam muito nutriente da planta. Isso ajuda a revitalizar a planta, que passa a crescer melhor como um todo”, diz Fernanda Danelon, do Instituto Guandu. “É importante podar sempre, ao menos uma vez por semana, mas não todos as folhas de uma vez, se não a planta pode levar muito tempo para se recuperar”, diz.
Já o paisagista Fabricio Sbruzzi recomenda a poda de raízes nos casos de plantas de grande porte mantidas em vasos. “Jabuticaba, romã, pitanga. Dá para ter pé delas em vaso, mas de tempos em tempos você vai ter que tirar a planta do vaso, podar as raízes e replantar”, ensina. O alvo da tesoura devem ser os “novelos” que as raízes dessas plantas formam. “Ela forma uma espécie de ‘capa’, você tira essa capa e planta de novo. Isso dá uma nova vida para a planta, que começa a dar folhagem nova, até mais bonita.”
No calendário de atividades cotidianas, o jardineiro não pode deixar de ter a adubação. Isso porque com o tempo, a terra vai ficando carente dos nutrientes e enrijecendo. Com a adubação, é possível resolver dois problemas de uma vez: renovar o material orgânico da terra para a planta e ainda torná-la arejada.
Os especialistas consultados pelo Nexo recomendam fazer o processo pelo menos uma vez ao mês. Para adubar, Fernanda Danelon sugere usar uma pá e revolver a terra próxima ao caule, superficialmente, com cuidado para não danificar a raiz. “Não é para tirar a terra, só remover do lugar, descompactando. Isso ajuda a fazer com que o ar chegue ali”, diz.
O adubo deve ser então jogado por cima dessa terra mexida. Há diversos tipos de adubos à venda, sólidos e líquidos. Dentre as opções do mercado, no entanto, Danelon defende o uso de adubo orgânico, como o obtido do processo de compostagem , evitando a adubação química. “Agrotóxico é algo extremamente danoso para o planeta. Opte por minhocas, compostagem, esterco bovino curtido, ou ainda biofertilizantes ou produtos biodegradáveis.”
Mesmo sendo um cultivador exemplar, o jardim vai mal? A planta que começa a ter problemas, como doenças, falta ou excesso de água, nutrientes ou ataque de pragas, geralmente dá pistas disso através de seu aspecto, seja apresentando falta de rigidez no caule e galhos ou ainda mudança na coloração de suas folhas .
Identificado o problema, é hora de atacá-lo. No caso de pragas (como pulgões e cochonilhas) ou doenças, lojas especializadas vendem soluções industriais e naturais que mostram resultado em poucos dias.
Um problema comum que merece destaque, no entanto, são os fungos, que podem ser mortais. Quando chegam às raízes, a chance de salvar a planta é baixa. “Normalmente, o fungo aparece como consequência de muita água e vai apodrecendo a base da planta. Aí vem fungo, bactéria e, nesse ponto, já é mais difícil de recuperar a planta”, diz Sbruzzi. “O importante é não deixar chegar nesse ponto. Em alguns casos dá para cortar e a raiz brota de novo, mas é raro.”
Em situações de problemas menos fatais, algumas medidas drásticas podem ajudar na operação de salvamento.
Às vezes a razão da agonia da planta é o ambiente. A terra, apesar de devidamente adubada, pode não estar mais adequada; o vaso ou a jardineira pode estar muito pequeno ou com fungo nas paredes; no local onde a planta está na casa, ela pode estar recebendo muito ou pouco sol. As possibilidades são várias. Na dúvida, mude o vegetal de vaso (ou renove toda a terra do jardim) e, se não funcionar, considere mudá-lo de lugar.
“O ideal é, uma vez por ano, trocar a planta de vaso e renovar a terra. Quando a troca é feita, você mexe na raiz, então depois é bom regar diariamente até que, após uns 20 dias, ela comece a se recuperar”, afirma Fernanda Danelon. “É o tempo de a raiz se adaptar no novo ambiente.”
Se uma planta está doente ou excessivamente seca, uma saída é fazer uma poda mais radical, retirando suas folhas velhas, fracas ou doentes. O objetivo é o mesmo das podas periódicas: deixar que os nutrientes sejam melhor distribuídos e a planta volte a crescer.
Além das folhas, é possível fazer o mesmo com os galhos. Nestes casos, é importante observar a coloração e consistência interna do caule. A recomendação é cortar aos poucos até se observar uma coloração esverdeada no centro. Em algumas semanas, é dali que, com sorte, brotarão galhos novos.
Plantas cujos donos passaram uma temporada de férias sabem o que é quase morrerem estorricadas. Galhos e folhas secas são o sinal mais evidente de falta de água, mas podem não significar exatamente o fim da planta.
Antes de decretar o óbito da planta, vale tentar a estratégia de simular uma estufa, colocando a planta sob uma situação de umidade extrema. Para isso, adube a terra e regue a planta com uma quantidade superior à de costume e envolva-a com um saco, garrafa ou caixa plástica grande –use estruturas de madeira para que o plástico não toque nas folhas. Dentro de dois ou três dias, a planta pode começar a reagir.
Apesar das várias tentativas, mais plantas definharam? Não desanime, nem pendure a pá de jardineiro. Aproveite o luto para aprender o que deu errado.
Se os cuidados básicos não funcionarem, vale experimentar plantas diferentes até encontrar alguma que se adapte bem ao espaço que tiver. O segredo, segundo Fernanda Danelon, é bem simples: “O mais importante para quem quer cuidar de planta é observar. A planta é um ser vivo. Ela não fala, até um agricultor experiente quando vai plantar tem que observar.”
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