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Fechar e iniciar novos ciclos: praticamente todos os textos que escrevi até aqui nesta coluna abordam isso de várias maneiras, direta ou indiretamente. Acreditando no ano que chegou, olhando daqui, janeiro foi um mês interessante. Há dois anos, estava vivendo uma das maiores experiências da minha vida, que foi o set de filmagem do “ Kbela ”, filme que dirigi e escrevi. Imersa numa experiência que juntou, diretamente, 60 pessoas negras e brancas, em sua maioria mulheres negras dirigindo departamentos de produção, elenco, arte e música. Isso sem contar com as outras centenas de mulheres que em 2013 enviaram seus relatos para participar do filme quando fizemos uma chamada pública na internet, convocando atrizes e não atrizes interessadas em fazer parte de um projeto audiovisual que falava de corpos negros, com foco na mulher negra tendo como base o texto “ MC Kbela ”.
Também não poderia deixar de falar de um bocado de gente que eu, inclusive, nunca vi nesta vida, que apostou tanto nessa ideia que até doou dinheiro na vaquinha que fizemos para arrecadar R$ 5.000, quantia que garantiu a nossa estadia próxima da locação, alimentação, passagem e o aluguel de alguns equipamentos de que precisamos para o filme acontecer. Fizemos muita coisa com pouco recurso financeiro, mas com uma riqueza infinita que é estarmos cercadas e cercados da disposição de um monte de gente dando o melhor de si. Sem esquecer, é claro, do enorme esforço de produção que conseguiu a maioria das coisas no amor, isso graças às duas grandes e maravilhosas produtoras Erika Candido e Monique Rocco, que conheci naquele set e seguimos juntas desde então.
Obrigada a todo o time. Acredito que agradecer é um dos melhores caminhos para seguir com o coração e mente fortes e tranquilos. E foi por isso que liguei para cada um quando saiu a notícia de que o nosso filme tinha sido selecionado para a 46 a edição do Festival Internacional de Cinema de Rotterdam.
Lembrei imediatamente de toda a caminhada, do quanto foi duro fazer esse filme sobre mulheres negras e com mulheres negras como criadoras e narradoras da sua própria história, que agora mostrariam numa janela internacional a maneira que escolheram falar de seus corpos.
Sim, nós escolhemos. Sim, nós podemos escolher narrar a nossa história. Sim, isso é uma vitória de séculos de luta de muitos movimentos negros, nesse caso, principalmente, das mulheres negras. E não por acaso “Kbela” é um filme para todas as mulheres negras do mundo. Em breve falo melhor do filme em si num próximo texto.
Yasmin Thaynáé cineasta, diretora e fundadora da Afroflix, curadora da Flupp (Festa Literária das Periferias) e pesquisadora de audiovisual no ITS-Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro). Dirigiu, nos últimos meses, “Kbela, o filme”, uma experiência sobre ser mulher e tornar-se negra, “Batalhas”, sobre a primeira vez que teve um espetáculo de funk no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e a série Afrotranscendence. Para segui-la no Twitter: @yasmin_thayna
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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