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Alicia Kowaltowski
Uma questão de ciência: devemos temer os radicais livres?
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Aconteceu há poucos dias nos EUA o congresso da maior sociedade mundial voltada para o entendimento de radicais livres . Apesar do nome, não se trata de um movimento político, e sim de uma sociedade científica, em que se estuda o papel na biologia e na medicina de um grupo de moléculas conhecidas como radicais livres. Cerca de 400 cientistas se reuniram para apresentar e discutir seus últimos achados científicos na área.
Para entender o que são radicais livres, é preciso lembrar que toda a matéria que nos cerca é composta por moléculas e átomos. De fato, os átomos que nos compõem como seres vivos estão constantemente participando de reações químicas, gerando e modificando as moléculas que nos fazem existir . Átomos, por sua vez, possuem núcleos (que contêm prótons e nêutrons) e também elétrons, que transitam em torno dos núcleos em diferentes distâncias, conhecidas como orbitais, devido à sua semelhança com as órbitas de planetas em torno do sol. Mas a semelhança entre átomos e o sistema solar para por aí, pois elétrons tipicamente não têm orbitais individuais próprios, como os planetas. Em vez disso, a maioria dos elétrons existem em pares nos diferentes orbitais, o que lhes garante maior estabilidade química.
Radicais livres são uma exceção nesse sentido, pois possuem elétrons sem par em um determinado orbital, ou elétronsdesemparelhados. Essa propriedade é o que faz dos radicais livres moléculas especiais, pois ter elétrons desemparelhados significa, em geral, ter uma menor estabilidade química. Por conterem elétrons sem pares para estabilizá-los, os radicais livres tendem a sofrer reações químicas com maior facilidade. Em outras palavras, radicais livres são, geralmente, moléculas bastante reativas. Podem reagir com outras moléculas no nosso corpo, modificando-as.
Você provavelmente já ouviu falar que radicais livres são moléculas que podem causar doenças e envelhecimento, sendo portanto os “maus elementos” dentre os produtos químicos. De fato, radicais livres que produzimos dentro dos nossos corpos podem levar a lesões de várias de nossas moléculas, participando de doenças, incluindo infarto cardíaco, cânceres e diabetes, entre outros.
Alicia Kowaltowskié médica formada pela Unicamp, com doutorado em ciências médicas. Atua como cientista na área de Metabolismo Energético. É professora titular do Departamento de Bioquímica, Instituto de Química da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. É autora de mais de 150 artigos científicos especializados, além do livro de divulgação Científica “O que é Metabolismo: como nossos corpos transformam o que comemos no que somos”. Escreve quinzenalmente às quintas-feiras.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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