Educação em transição para uma convivência democrática

Debate

Educação em transição para uma convivência democrática
Foto: Amanda Perobelli/REUTERS - 13.03.2020

Toni Reis


17 de dezembro de 2023

A educação precisa estar mais em transição, deixando para trás o preconceito, o estigma, a discriminação e a violência, transformando-se em uma educação que saiba lidar com os conflitos, que seja inclusiva e acolhedora

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Tive a oportunidade de participar recentemente, junto com representantes de mais 17 instituições, do Encontro entre Organizações atuantes em temáticas relacionadas à Convivência nas Escolas, promovido pelo Instituto Unibanco. Foi um encontro importante para apontar para diversos caminhos rumo à superação de situações de conflito, desrespeito, discriminação e violência nos ambientes educacionais que comprometem a convivência e a aprendizagem dos/das estudantes, podendo até levar ao baixo rendimento, à evasão e ao abandono dos estudos.

Essas situações atingem estudantes com diversas características. Por exemplo, em relação à raça, uma pesquisa mostrou que, entre os jovens de 14 a 29 anos fora da escola, 70% eram negros, enquanto 28% eram brancos (IBGE, 2022). Quanto a estudantes LGBTI+, uma pesquisa revelou que 60% se sentiam inseguros/as, 73% foram agredidos/as verbalmente e 36% foram agredidos/as fisicamente na escola no último ano por serem LGBTI+ (ABGLT, 2016). Em outra pesquisa sobre violência baseada em gênero, 39,1% dos/das estudantes relataram casos que envolviam beijar alguém à força, e 8,3%, ter relações sexuais forçadas, além de comportamentos como tocar em ou tirar as roupas de alguém sem o consentimento daquela pessoa (Ambramovay, 2009).

Em vista desses e outros problemas, no encontro as instituições participantes expuseram considerações sobre equidade e qualidade na educação, gênero, LGBTI+, raça e etnia, democracia, direitos humanos, cidadania e justiça social, saúde mental, esporte e cultura, preservação do meio ambiente e sustentabilidade, entre outras, na busca pela identificação de possíveis soluções. Foi um intercâmbio muito rico e produtivo. Aprendi sobretudo que, para problemas complexos, precisamos de soluções complexas, e em rede.

Uma das coisas que mais gostei no evento em termos de nos ajudar a refletir e entender mais sobre as complexidades com as quais temos que lidar no atual ambiente educacional foi o conceito de “VUCA e BINA”, exposto pelo Secretário de Educação do Espírito Santo e atual presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação, professor Vitor de Angelo.

O termo “mundo VUCA” surgiu na década de 1990, após o fim da Guerra Fria, buscando descrever as transformações que ocorriam no mundo naquele período e como lidar com elas, ainda que a partir de uma visão militar. A sigla (que manteve seu formato originado da língua inglesa) significa Volatilidade, ou a velocidade – cada vez maior – com que as mudanças acontecem; Incerteza (Uncertainty), o quão difícil é,por causa dessas mudanças constantes, poder prever o que está por vir e estabelecer padrões para seguir; Complexidade, o que significa que o mundo não é mais apenas “a” ou “b”, “nós” e “eles” ou jacobinos (mudança) e girondinos (status quo), há diversos elementos a serem considerados; Ambiguidade, o que diz respeito em parte à enorme quantidade de informações que passaram a circular, às vezes contraditórias, incompletas ou imprecisas, isto é, ambíguas (Da Silva, 2022).

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