Expresso

Como um game desenvolvido em Camarões quer apresentar mitologias africanas

Kaluan Bernardo

04 de fevereiro de 2016(atualizado 28/12/2023 às 23h29)

Jogo reimagina a história do continente: como seria a África se nunca tivesse havido invasões e colonização

O Nexo depende de você para financiar seu trabalho e seguir produzindo um jornalismo de qualidade, no qual se pode confiar.Conheça nossos planos de assinatura.Junte-se ao Nexo! Seu apoio é fundamental.

Temas

Compartilhe

FOTO: DIVULGAÇÃO/KIRO’S GAMES

Aurion: Legacy of the Kori-Odan imagina continente africano sem colonização

É comum encontrar mitologia japonesa, nórdica ou grega em videogames. Mas há poucos games que falam da África (a Wikipedia cita 84 ). Foi por isso que o “Kiros Games”, um estúdio da República dos Camarões, começou a desenvolver “Aurion: Legacy of the Kori-Odan”, um jogo que traz a mitologia, a moda e a música de diferentes regiões da África para o mundo dos games.

Há uma África diversa e povoada por um número variado de culturas e grupos étnicos no universo de “Aurion”. O game imagina uma história alternativa para o continente: em sua versão, ele nunca sofreu os efeitos dos períodos imperialistas e se desenvolveu por 10 mil anos sem colonização.

“Nós realmente queríamos que as pessoas vissem a África como uma ‘terra de desafios’, não como uma ‘terra de problemas’”

Oliver Madiba

Fundador do estúdio, ao site “ Kotaku

O game, do gênero RPG, conta a história de Enzo Kori-Odan, príncipe de um país fictício chamado Zama (inspirado por diversos países da África, como Nigéria, Uganda e Quênia), que está prestes a sofrer um golpe de Estado. Junto com sua noiva, Erine, eles utilizam super-poderes, herdados da energia de seus antepassados, para salvar sua terra. “A energia de Aurion é baseada na conexão que temos com nossos ancestrais, que é algo muito comum na maioria das tradições africanas”, diz Madiba.

O nome do estúdio, “Kiro”, está ligado à ideia de ancestralidade evocada pelo game. A palavra significa “visão espiritual”, em suaíli, idioma utilizado em países como Quênia, Tanzânia e Uganda.

Os criadores do jogo se preocuparam em representar elementos culturais diferentes e originários de várias partes do continente africano – justamente para espelhar a sua diversidade.

“Não há ‘uma’ tradição africana. Nós somos realmente diversos. Apenas em Camarões temos mais de 250 grupos étnicos. Em Aurion você encontrará inspirações arquitetônicas do oeste de Camarões. As roupas também têm inspirações africanas, mas sem transformar tudo em algo muito exótico”, diz Patrick Hervé Meli, um dos designers do jogo, ao site “ Polygon ”.

Os desafios de criar um jogo em Camarões

FOTO: DIVULGAÇÃO/KIRO’S GAMES

Equipe da Kiro’s Games, em Camarões

O “Kiro’s Games” diz que é o único estúdio de games no país. Sua história começou em 2003, quando Madiba procurava desenvolvedores. “Todos pensavam que era uma piada”, disse ao site “ Boing Boing ”. Até que encontrou dois interessados, que se tornaram seus amigos, e começaram a tocar o projeto, que se estendeu por mais de uma década.

O estúdio só se tornou uma empresa em 2013, quando o grupo passou a se dedicar com mais afinco ao projeto. Entre os desafios, até cortes de energia eles enfrentaram. Camarões passou por diversos períodos de apagões. Em uma das vezes em que ficaram sem eletricidade, chegaram a perder dois meses de trabalho. Se a iniciativa der certo, os desenvolvedores pretendem investir em painéis solares para os próximos projetos.

“Fazer videogames nesse nível em Camarões é algo completamente novo. Aqui não há escolas ensinando a fazer”, Madiba comentou ao “Boing Boing”. Ele conta que a maior parte da equipe teve que aprender tudo sozinha.

A equipe conseguiu apoio do Ministério de Artes e Cultura de Camarões e da iniciativa privada. Parte da renda também veio por meio de financiamento coletivo na plataforma “ Kickstarter ”, onde a equipe conseguiu levantar o equivalente a aproximadamente R$ 215 mil. Agora, o jogo está previsto para ser lançado em abril de 2016.

Meli diz que os desenvolvedores encaram o projeto como uma “oportunidade de mostrar para a raça humana como um grupo de pessoas pode superar a guerra e a pobreza e se tornarem grandes”. Mas, “não grandes por causa de suas armas atômicas ou por conta de grandes construções, mas grandes por causa da humanidade que conseguimos colocar em nossos modelos sociais”.

NEWSLETTER GRATUITA

Nexo | Hoje

Enviada à noite de segunda a sexta-feira com os fatos mais importantes do dia

Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.

Gráficos

nos eixos

O melhor em dados e gráficos selecionados por nosso time de infografia para você

Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.

Navegue por temas