A busca pela equidade racial na comunicação em programa do ‘Nexo’
Da Redação
08 de março de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h00)Jornal abre inscrições nesta terça (9) para formação voltada a estudantes negros de todo o Brasil. Projeto tem duração de dez meses e contempla bolsa auxílio e aulas de inglês
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Logo do Programa Diversidade Racial na Comunicação Nexo 2021
O Nexo lança nesta terça-feira (9) o Programa Diversidade Racial na Comunicação 2021 , uma formação exclusiva para estudantes negros de jornalismo de todo o país. Com o objetivo de incentivar a equidade racial nas organizações de comunicação brasileiras, o programa oferece dez bolsas para estudantes, com ou sem experiência na área, que queiram complementar sua formação.
A grade da imersão é interdisciplinar, apoiada em pilares como linguagens, jornalismo multiplataforma, mercado e desenvolvimento pessoal. Cada participante selecionado receberá ainda uma ajuda de custo mensal, aulas de inglês durante um ano, uma assinatura do Nexo , o certificado de participação e terá publicação de pelo menos uma matéria no Nexo e em jornais parceiros. Todas as aulas, oficinas e encontros serão realizados de forma remota.
“Ações afirmativas são essenciais num país como o Brasil, onde claramente não há igualdade de oportunidades. Em se tratando da comunicação, há uma camada adicional: se queremos contar as histórias que realmente importam e retratam nosso país, se queremos conversar com o conjunto da sociedade, é preciso ter pessoas que de fato representam o país nas equipes dos jornais”
A preocupação em ter uma equipe mais diversa está presente em vários países. Em 2020, o Washington Post, nos EUA, criou uma vaga de diretora editorial para diversidade e inclusão, ocupada pela jornalista negra Krissah Thompson. O New York Times divulgou, em fevereiro, um longo relatório sobre a diversidade da própria redação, com um plano de ação para resolver os problemas encontrados. Atualmente, negros e latinos correspondem a 9% da força de trabalho da empresa. A meta é que esse percentual chegue a 13,5% até o final de 2025 .
A BBC, empresa de radiodifusão pública britânica, criou em 2019 o cargo de diretora de diversidade criativa, ocupado por June Sarpong. Em 2020, estabeleceu a meta de que seu quadro de colaboradores seja composto de pelo menos 20% de profissionais pertencentes a grupos sub-representados na mídia.
“O jornalismo não pauta a questão da diversidade e da inclusão. Quando isso acontece, é da porta pra fora, com casos isolados, muito focados em números e menos em acolhimento e permanência dos talentos nas redações. Do jeito que estamos, o jornalismo é o dínamo que faz a roda do racismo girar em nossa sociedade. É mais importante do que nunca termos iniciativas que diversifiquem as redações. Já passou da hora de mudarmos isso”
No Brasil, o laboratório de jornalismo Énois criou um programa de diversidade no qual dez jornalistas trabalham em dez redações online fora do eixo Rio-São Paulo e, mais recentemente, a Folha de S.Paulo lançou um programa de treinamento destinado a profissionais negros.
Ações afirmativas também têm se tornado mais comuns no ambiente corporativo, como o programa de trainee exclusivo para negros da varejista Magazine Luiza e processo de seletivo de estagiários da Ambev.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2019 apontam que 70% dos cargos gerenciais no Brasil são ocupados por pessoas brancas, e apenas 30% por negros. Quando se observam só as maiores empresas do Brasil, apenas 6% dos cargos gerenciais são ocupados por negros, segundo uma pesquisa do Instituto Ethos feita em 2016. No topo da hierarquia corporativa, nos cargos executivos e no conselho de administração, esse índice é menor que 5%.
4,7%
dos postos de direção nas 500 maiores empresas do Brasil são ocupados por negros, segundo pesquisa do Instituto Ethos de 2016
Em termos comparativos: os negros constituem cerca de 13% da população dos EUA e ocupam 9,4% dos cargos de direção nas 100 maiores companhias listadas pela revista Fortune, de acordo com informe do The Executive Leadership Council. Para atingir uma representação de negros no mundo empresarial proporcionalmente próxima daquela encontrada nos Estados Unidos, o Brasil deveria contar com cerca de 40% de negros em postos de liderança empresarial, um percentual 8,5 vezes superior aos atuais 4,7%.
O processo seletivo tem como pré-requisitos a autodeclaração de pertencimento racial e a disponibilidade para uma jornada imersiva de pelo menos 12 horas por semana, durante dez meses. Mais informações estão disponíveis no regulamento completo do programa.
Inscreva-se aqui . As inscrições vão até o dia 23 de março de 2021.
Para acolher o projeto em acordo com os objetivos principais do Programa Diversidade Racial na Comunicação, o Nexo vem reformulando seus processos seletivos e a redação receberá, em paralelo ao programa, uma formação antirracista com foco na história, formação cultural e ancestral brasileira, além de imersões em temas como viés inconsciente, interseccionalidade e liderança inclusiva.
O programa também conta com um conselho formado por André Degenszajn, diretor-presidente do Instituto Ibirapitanga; Aline Midlej, jornalista e apresentadora da GloboNews; Atila Roque, diretor da Fundação Ford Brasil; Bianca Santana, jornalista, pesquisadora e escritora; Lilia Schwarcz, antropóloga, historiadora e colunista do Nexo ; Márcia Lima, professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo; Mário Medeiros, professor da Universidade Estadual de Campinas; e Thiago Amparo, professor da Fundação Getúlio Vargas.
O projeto conta com o apoio do Instituto Galo da Manhã e da Fundação Tide Setubal.
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