Qual a relação entre dengue e covid-19, segundo este estudo
Aline Pellegrini
11 de maio de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h07)As interações entre a doença transmitida por mosquitos e o novo coronavírus foram testadas na Amazônia brasileira
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Mosquito Aedes aegypti, vetor dos vírus da dengue, chikungunya e zika
Quem já teve dengue tem duas vezes mais chance de desenvolver a forma sintomática da covid-19. Essa é a conclusão de pesquisadores da Universidade de São Paulo em estudo publicado na quinta-feira (6) na revista científica Clinical Infectious Diseases.
O estudo, que leva o nome de “Epidemias em interação na Amazônia”, foi realizado com dados obtidos por amostras de sangue de 20% da população do município acreano de Mâncio Lima, onde esse grupo de cientistas trabalha há anos realizando pesquisas.
“Como nós tínhamos amostras de sangue da população de Mâncio Lima coletadas antes e após a primeira onda da pandemia, decidimos usar o material para testar a hipótese de que a infecção prévia pelo vírus da dengue conferia algum tipo de proteção contra o Sars-CoV-2 [nome do novo coronavírus]. Mas o que vimos foi exatamente o oposto”, afirmou à Agência Fapesp Marcelo Urbano Ferreira, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e coordenador do estudo.
A hipótese mencionada por Ferreira é de um levantamento de setembro de 2020 que sugeriu que lugares que apresentaram muitos casos de dengue em 2019 e no início de 2020 tiveram menos infecções e mortes por covid-19. Esse estudo de setembro foi comandado pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke (EUA).
A pesquisa da USP divulgada na quinta-feira (6) chegou a um resultado diferente. Segundo o levantamento, a infecção prévia por dengue está associada ao “aumento do risco subsequente de covid-19, implicando que epidemias sequenciais de dengue e covid-19 podem impor uma carga extra de doença às comunidades afetadas”.
As interações entre dengue e covid-19 na Amazônia brasileira foram estudadas a partir do sangue de 1.285 moradores de Mâncio Lima. O estudo da USP divulgado na quinta-feira (6) analisou amostras coletadas em dois momentos: novembro de 2019 e novembro de 2020.
Esse material foi submetido a testes que conseguem detectar anticorpos contra os quatro sorotipos da dengue e também contra o Sars-CoV-2. Também foram analisadas as informações clínicas dos voluntários diagnosticados com a covid-19, entre elas se apresentou sintomas e se houve recuperação ou não.
A conclusão da pesquisa “Epidemias em interação na Amazônia” é de que a infecção prévia pelo vírus da dengue não altera o risco de um indivíduo ser contaminado pelo novo coronavírus, mas quem teve dengue no passado apresentou mais chance de ter sintomas quando infectado pelo novo coronavírus.
“Nossos resultados evidenciam que as populações mais expostas à dengue, talvez por fatores sociodemográficos, são justamente as que correm mais risco de adoecer caso sejam infectadas pelo Sars-CoV-2. Este é um exemplo do que tem sido chamado de sindemia [interação sinérgica entre duas doenças de modo que uma agrava os efeitos da outra]: por um lado, a covid-19 tem atrapalhado os esforços de controle da dengue, por outro, esta arbovirose parece aumentar o risco para quem contrai o novo coronavírus”, disse Ferreira.
Os pesquisadores ainda não sabem quais são as causas do fenômeno, mas apontam duas hipóteses. Uma delas seria biológica: os anticorpos contra o vírus da dengue poderiam estar favorecendo de algum modo o agravamento da covid-19. A outra é sociodemográfica: populações estariam mais vulneráveis às duas doenças por características diversas.
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