Expresso

Por que a propaganda oficial é essencial na pandemia

Tatiana Farah

15 de junho de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h11)

Bolsonaro está errado ao sugerir que publicidade na TV não é necessária porque todos já sabem sobre a covid. Especialistas em saúde falam da importância das orientações em momentos de crise

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FOTO: UESLEI MARCELINO/REUTERS – 10.MAR.2021

O presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, em Brasília

O presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, em Brasília

Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo publicada nesta terça-feira (15) mostrou que o Palácio do Planalto retirou R$ 52 milhões que deveriam ser destinados a ações de comunicação sobre a covid-19 para usá-los em propagandas para exaltar o governo.

O presidente Jair Bolsonaro tentou ironizar o jornal, sugerindo que todos já sabem do que se trata a pandemia. Especialistas, porém, ressaltam a importância da comunicação oficial para orientar a população durante momentos de crise sanitária como o atual.

A origem dos recursos e a ironia presidencial

Os recursos haviam sido previstos na Medida Provisória 942, de abril de 2020, que abriu créditos extraordinários para o enfrentamento emergencial da pandemia. O texto da MP era claro quanto ao destino dos R$ 52 milhões: “informar à população e minimizar os impactos decorrentes da proliferação da doença”.

Mas em vez de ser destinada à publicidade focada em mensagens preventivas contra as ameaças da pandemia, o dinheiro foi gasto em propaganda do auxílio emergencial pago a trabalhadores informais de baixa renda e do incremento do Bolsa Família, conforme dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.

Responsável pelos gastos, a Secom (Secretaria de Comunicação Social) afirmou ao jornal que usou o dinheiro “no entendimento de que cabe ao governo federal manter a população informada acerca das ações governamentais que estão sendo implementadas em virtude das consequências que a pandemia trouxe à realidade de todos”.

Já Bolsonaro afirmou o seguinte em conversa com apoiadores em Brasília, usando um tom irônico: “Agora alguém precisa mais ter propaganda na televisão sobre covid-19 ou todo mundo tá sabendo o que está acontecendo?”.

O presidente minimizou e desdenhou a crise desde seu início, em março de 2020. Além disso, aglomerou pessoas em eventos oficiais pelo Brasil, sabotou o isolamento social em prol da economia, questionou sem base científica o uso de máscaras, defendeu e financiou medicamentos sem eficácia e desestimulou e atrasou a vacinação da população.

O papel da propaganda em crises sanitárias

Todas as campanhas de vacinação e enfrentamento de doenças são acompanhadas ou deveriam ser de publicidade oficial, segundo especialistas da área de saúde. No caso da pandemia de covid-19, a comunicação oficial se faria necessária para incentivar as pessoas a ficarem em casa se possível, para incentivar as pessoas a usarem máscara de proteção e, na fase de vacinação, incentivar as pessoas a irem tomar o imunizante.

“Vacinar a população por si só já é um desafio muito grande. E algo que é vital para uma campanha bem sucedida é a confiança nas vacinas, o que depende muito da capacidade dos governos de comunicar para a população os benefícios da vacinação e sua capacidade de administrar a vacinação com eficácia e segurança”, disse ao Nexo amédica epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute (Washington).

“Isso se faz por meio de uma campanha eficaz de propaganda. Em toda situação de vacinação, as campanhas do governo são necessárias. Principalmente nesta pandemia, diante da magnitude dessa vacinação, que é extremamente ampla e complexa, com duas doses de vacina, e várias vacinas diferentes”, completou ela.

No Twitter, o microbiologista Átila Iamarino disse que a propaganda oficial é sempre necessária em pandemias. “ Como informar sobre distanciamento social , algo que a maioria nunca precisou fazer? Como informar que o vírus circula pelo ar e precisamos ventilar ambientes? Como ensinar qual a máscara adequada e como usar? Como falar da importância da 2ª dose?”, questionou Iamarino ao comentar a declaração de Bolsonaro.

Para o microbiologista, o governo evita assumir sua própria responsabilidade na orientação dos cidadãos acerca de aglomerações. “Mais fácil pôr a culpa no ‘brasileiro que não sabe evitar aglomeração’ do que reconhecer o papel fundamental do Estado na maior crise de saúde da nossa geração”, escreveu.

Nesse caminho de comunicação, a TV ainda é peça fundamental. Uma pesquisa realizada pela Kantar Ibope Media, em 2018, revelou que 93% da população das regiões metropolitanas assiste à televisão regularmente. O tempo dedicado a essa mídia cresceu 12% em dez anos, mesmo diante do aumento da influência das redes sociais.

A comunicação oficial do governo Bolsonaro sempre titubeou na pandemia. Em maio de 2021, lançou uma campanha de prevenção. O presidente da CPI da Covid, Osmar Aziz (PSD-AM), criticou as peças que estão sendo veiculadas. “De uma forma até vergonhosa, acanhada, eles mandam usar máscara, isolar e usar álcool em gel. Não é a política federal. O ministro [da Saúde, Marcelo Queiroga] faz uma propaganda de isolamento, para usar máscara e tal, acanhada , por medo”, disse o senador ao jornal Correio Braziliense no início de junho.

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