Quais os planos para a retomada dos eventos no país
Cesar Gaglioni
12 de julho de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h14)Cidades e estados criam protocolos e organizam testes para a volta parcial do setor de shows, feiras, festas e competições esportivas. Questão não é consenso na comunidade científica
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Show de Sam Fender com distanciamento social, realizado na Inglaterra
Cidades e estados do Brasil estão planejando retomar a realização de eventos após 15 meses do início da pandemia da covid-19.
O setor foi um dos mais afetados pela doença, já que, na maioria das vezes, eventos culturais, esportivos e comerciais dependem de aglomerações em espaços fechados, estendidas por longas horas. O estado de São Paulo foi o que apresentou o plano mais estruturado para a retomada , mas iniciativas semelhantes já aparecem em outros lugares do país.
Neste texto, o Nexo explica como serão esses eventos, apresenta iniciativas similares em outras partes do mundo e destrincha a segurança sanitária desse tipo de projeto.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou no dia 7 de julho a realização de 30 eventos-teste no estado, que vão acontecer entre a segunda quinzena de julho e o final de dezembro.
“Com a melhoria dos indicadores da pandemia, vamos dar um novo passo na retomada econômica no estado de São Paulo e vamos iniciar o acompanhamento de 30 eventos nas áreas de cultura, negócios, lazer, esportes e turismo”, disse Doria.
Ao todo, a iniciativa vai contar com:
Entre os eventos já anunciados estão o Grande Prêmio de São Paulo na Fórmula 1 – o tradicional GP de Interlagos –, a feira de cultura pop Comic Con Experience, quatro shows de música no estádio Allianz, zona oeste da capital, e um congresso sobre a retomada econômica na cidade de Santos, litoral sul do estado.
Para a realização dos eventos, alguns protocolos sanitários serão exigidos:
Detalhes de como todos os protocolos serão aplicados na prática ainda não foram esclarecidos. O Nexo entrou em contato com o governo estadual para entender os mecanismos de operacionalização das diretrizes, mas não obteve resposta até a tarde de segunda-feira (12).
O estado de São Paulo tem registrado queda no número de novos casos e de mortes pela covid-19 desde o dia 24 de junho. A diminuição na propagação do vírus está relacionada ao avanço da vacinação estadual, mas não é garantia de que a epidemia está controlada ou caminhando para isso. Novas cepas do vírus – como a delta – podem driblar o sistema imunológico e causar uma nova onda de casos.
Há iniciativas similares à de São Paulo em outras partes do país.No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) afirmou que a final da Copa América no sábado (10) podia ser encarada como um evento-teste .
O jogo teve presença de cerca de 5 mil torcedores, que precisavam comprovar resultado negativo no teste de detecção da covid-19. De acordo com o UOL Esporte, vendedores ambulantes estavam comercializando testes falsificados nos arredores do estádio do Maracanã.
Paes afirmou que a Secretaria de Saúde do município teve liberdade para permitir ou vetar a realização do jogo com público, e que os técnicos do órgão não viram problema em liberar a entrada de visitantes.
Salvador, capital da Bahia, também planeja uma retomada. No dia 5 de julho, o prefeito Bruno Reis (DEM) anunciou um evento musical teste a ser realizado no dia 29 de julho.
A iniciativa contará com 500 pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a prefeitura negocia uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, ligada ao Ministério da Saúde, para monitorar possíveis casos de covid-19 no público.
Outros países do mundo já retomaram a realização de eventos diante do avanço da vacinação e da queda no número de casos e mortes.
Em Nova York, nos Estados Unidos, a prefeitura local apostou no aplicativo Excelsior Pass, uma carteira virtual que traz um comprovante de que aquele indivíduo está completamente vacinado contra a covid-19 e que pode entrar nos eventos.
Os EUA estão usando as vacinas Pfizer, Moderna e Janssen, que têm dados apontando a capacidade delas em barrar a transmissão do vírus caso uma pessoa imunizada seja contaminada.
Do ponto de vista sanitário, o uso do Excelsior Pass foi elogiado por especialistas em infectologia dos EUA, por ter sido avaliado como um método eficaz de controle de transmissão. No entanto, do ponto de vista social, um aplicativo como esse é alvo de discussões mundo afora. Críticos afirmam que os passaportes de vacinação podem ampliar desigualdades entre países e também entre cidadãos de um mesmo país, que, por algum motivo, ainda não tiveram acesso aos imunizantes.
Israel, país que mais vacinou pessoas em relação à própria população, adotou um sistema parecido com o de Nova York, emitindo um passaporte de vacinação para quem recebeu as duas doses da vacina. O documento, validado digitalmente, é requisito para a entrada de residentes do país em eventos, festas, restaurantes, etc.
No domingo (11), a cidade de Londres – capital do Reino Unido – sediou a final da Eurocopa, um dos maiores torneios do futebol europeu. Cerca de 60 mil torcedores estiveram no estádio de Wembley. O comprovante de testagem negativa contra a covid-19 ou documento que mostrasse a vacinação completa foram exigidos pela organização da competição.
Na Austrália e na Nova Zelândia, eventos com milhares de pessoas estão funcionando plenamente. Os dois países conseguiram controlar o avanço da covid-19 ainda em 2020, com fechamento de fronteiras, testagem em massa e isolamento social amplo.
Não há um consenso acerca da segurança da realização de eventos-teste durante a pandemia de covid-19. A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que as avaliações devem ser feitas por autoridades locais com base em uma ponderação dos riscos envolvidos na realização do evento.
O site da OMS disponibiliza um documento com instruções para esse tipo de avaliação. Os fatores analisados são:
Não se sabe se as administrações brasileiras que estão planejando eventos-teste seguiram as diretrizes propostas pela OMS.
Segundo o médico João Gabbardo, coordenador do Centro de Contingência do governo de São Paulo, a realização dos eventos-teste é importante para avaliar uma retomada mais ampla futuramente.
“Temos que investir nesses testes para que a gente possa aprender melhor, numa fase que virá adiante, sobre como é que nós vamos fazer a abertura e a flexibilização para as atividades normais. Então, nós temos que aprender como fazer, de que maneira que ela é mais adequada, quais os riscos dessas flexibilizações futuras que serão feitas”, afirmou Gabbardo no anúncio da iniciativa.
Para o infectologista Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, é necessário cautela na realização desses eventos. “Tivemos surpresas com a pandemia, como uma segunda onda muito pior do que a primeira, então não há certeza que não teremos dias piores à frente. Precisamos, por exemplo, ficar atentos a variantes que evitem a imunidade das vacinas”, disse ao G1. “Há o distanciamento, uso de máscaras, variante em circulação… É o controle da pandemia que determina o grau de flexibilização.”
Na percepção popular, medidas como as anunciadas pelo governo de São Paulo são suficientes para inspirar confiança, segundo levantamento feito pela Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Evento) com 420 pessoas. A associação fez a seguinte pergunta aos entrevistados: “que tipo de comprovação te daria mais segurança para frequentar eventos?”
Apesar do início da retomada ser contestado e discutido, há um consenso entre profissionais da saúde e promotores de eventos de que uma normalização completa do setor é esperada apenas para 2022 , quando a vacinação tiver atingido um percentual maior de pessoas.
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