Por que a COP26 interessa diretamente a você
Mariana Vick
30 de outubro de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h30)Evento em Glasgow vai debater o combate à mudança climática num momento decisivo para o planeta evitar impactos ainda mais graves. Resultado de negociações deve afetar áreas como meio ambiente e economia
Ativista protesta contra a mudança climática às vésperas da COP-26, em Glasgow, Escócia
Representantes de governos, setor privado e sociedade civil se reúnem neste domingo (31) na cidade de Glasgow, na Escócia, para a abertura das negociações da COP26 , a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que vai até 12 de novembro.
Adiada de 2020 para 2021 por conta da pandemia de covid-19, a COP26 é o prazo final para que os países decidam como irão cumprir com o Acordo de Paris para o clima. O evento gera grande expectativa em meio ao aumento da preocupação global com a mudança climática .
O Nexo explica o que é a COP26, por que ela é importante, quais são as expectativas para as negociações e como o Brasil se posiciona no evento. Mostra também como os resultados da conferência podem afetar a população.
Criada em 1995 e realizada todos os anos, a Conferência das Partes é uma reunião entre países-membros da ONU voltada à mudança do clima, em que os participantes debatem soluções comuns para os desafios climáticos e podem criar novos acordos ambientais.
Os participantes do evento incluem chefes de Estado, ministros e diplomatas, que se envolvem nas principais negociações sobre o tema. Também participam representantes do setor privado e da sociedade civil, que comparecem a reuniões e debates paralelos.
A COP é realizada pela UNFCCC , a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, grupo de 196 países criado em 1992 com o objetivo de estabelecer compromissos globais para o combate à mudança climática, diante da intensificação do problema e de seus efeitos.
Em 2021, a conferência chega à 26ª edição — daí o nome COP26. Desde sua criação, parte de seus encontros resultou em avanços importantes, como o Acordo de Paris, assinado em 2015 na 21ª edição da conferência. Os resultados dependem do sucesso das negociações realizadas no evento.
Ativistas usam máscaras de galões de petróleo em protesto às vésperas da COP-26, em Glasgow, Escócia
Em 2021, os principais objetivos dos países na COP são terminar de regulamentar o Acordo de Paris e renovar os planos para redução de emissões de gases de efeito estufa na década atual, considerada crucial para evitar que a mudança do clima tenha impactos ainda mais graves.
Assinado por todos os países que estiveram na COP em 2015, o Acordo de Paris é o primeiro tratado universal de combate à mudança do clima. O principal objetivo do texto é limitar o aquecimento global a menos de 2 ºC ou, idealmente, a 1,5 ºC até 2100 em relação aos níveis pré-industriais.
1,09ºC
foi quanto a temperatura média da Terra aumentou até 2020 em relação aos níveis pré-industriais,entre os anos 1850 e 1900
Os países que assinaram o acordo em 2015 criaram compromissos nacionais para contribuir para a meta de 1,5ºC, chamados de NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Em 2020, com cinco anos do acordo, o texto foi revisado, e parte dessas metas foi renovada.
Laurent Fabius, então chanceler da França e presidente da COP-21, comemora o Acordo de Paris, em 2015
Os países que ainda não divulgaram seus novos compromissos ou fizeram metas insuficientes devem retomá-las na COP que começa neste domingo (31). Apesar de ter sido assinado em 2015, o Acordo de Paris entrou em vigor em 2020, e este é o prazo final para que os signatários planejem como irão cumpri-lo.
45%
é quanto as emissões devem cair até 2030 para manter a meta de 1,5ºC, segundo avaliação mais recente da ONU
16%
é quanto as emissões devem aumentar até 2030 caso os atuais planos climáticos dos países se mantenham os mesmos, segundo a mesma avaliação
Os países também devem discutir na COP26 outros temas ainda não resolvidos do Acordo de Paris, como a regulamentação do artigo 6 do texto, que trata sobre mercados de carbono , e o financiamento climático de países ricos para os mais pobres, que são mais vulneráveis à crise.
Os principais negociadores devem estar concentrados nesses temas, com o objetivo de manter a meta de 1,5ºC “viva”. Em debates paralelos, outros assuntos devem ser discutidos. Os desfechos das negociações devem ser declarados em 12 de novembro, último dia do evento.
25 mil
pessoas são esperadas na COP26 , entre políticos, negociadores e jornalistas de cerca de 200 países
Mercado de carbono
O mercado de carbono é o palco do comércio dos direitos de emissões , também chamados de créditos de carbono . Nesse mercado, para fazer emissões, os países devem apoiar medidas que compensem sua poluição, como projetos de energia limpa. Na COP26, será discutido como regulamentar esse mercado.
Financiamento climático
Em 2015, o Acordo de Paris criou um fundo global de US$ 100 bilhões anuais para financiamento de países mais pobres que precisam de apoio para se adaptar aos efeitos da mudança climática. Esse valor ainda não começou a ser embolsado. Na COP, os países devem discutir como esse financiamento pode ocorrer.
Outros temas
Outros temas na pauta da COP26 são o uso de carvão, fonte de energia que parte dos negociadores busca abolir; o uso de carros sem emissões de gases de efeito estufa, como veículos elétricos; o fim do desmatamento; e a redução das emissões de gás metano, que tem grande potencial de aquecimento.
Apesar de parecerem distantes do dia a dia, o Acordo de Paris e as discussões que vão acontecer na COP26 tratam de temas com grande impacto sobre áreas como a economia, o meio ambiente e os modos de vida adotados hoje.
Os países que decidirem abandonar combustíveis fósseis como petróleo e carvão para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, provavelmente promoverão mudanças nas indústrias, nos transportes, nos empregos e no modo como se usa energia elétrica.
Caso os países não consigam tomar medidas efetivas contra o aquecimento global, porém, todos estarão mais sujeitos aos impactos da mudança climática. Os sistemas agrícolas que não estiverem adaptados, por exemplo, serão mais vulneráveis a eventos como secas.
Um agricultor caminha em um lago seco nos arredores de Baokang, província de Hubei, na China
Considerada ambiciosa na época do acordo, a meta de 1,5ºC representa o cenário mais seguro em termos de impactos que a mudança climática pode causar, segundo cientistas. Estudos apontam que temperaturas maiores podem causar danos para os quais os países não estão preparados.
Em 2021, com a ocorrência de eventos climáticos extremos em diversos países, como o Canadá (que passou por grandes ondas de calor), a Grécia (com incêndios florestais) e o Brasil (com a maior seca em 90 anos), a atenção para os efeitos da mudança climática cresceu.
Vacas pastam em campo perto de incêndio na Ilha Kangaroo, na Austrália
No Brasil, a seca tem causado um efeito prático bastante próximo do dia a dia: com a escassez de água nos reservatórios, o sistema elétrico entrou em crise, e a conta de luz aumentou em 2021. O governo teve que recorrer a termelétricas, mais poluentes e caras. Esse cenário impulsiona a inflação , contribuindo para a alta de preços. A seca (assim como outros eventos climáticos) também prejudica as safras , tornando alimentos mais caros.
Para organizações da sociedade civil, a COP pode reunir esforços para evitar que no futuro os impactos da mudança climática sejam ainda mais severos. Também pode ser uma oportunidade para que os países respondam à crise causada pela covid-19 com uma economia mais diversificada e sustentável .
Causas
A mudança climática começa com atividades que emitem grande quantidade de gases que agravam o efeito estufa, fenômeno responsável por tornar o planeta mais quente. Entre os gases emitidos estão o CO2 (dióxido de carbono), o metano e o óxido nitroso. A maior parte das emissões é causada por atividades dos setores de energia, transporte e alimentos.
Efeitos
A emissão de gases como o CO2 agrava o efeito estufa e, como consequência, causa o fenômeno que tem sido chamado de aquecimento global. A principal consequência desse aquecimento é o aumento das temperaturas. Entre outros efeitos, há também a elevação do nível dos mares e o aumento de eventos climáticos extremos. A expressão mudança climática é um sinônimo abrangente de aquecimento global.
Projeções
As projeções do clima mostram que o aquecimento global pode ultrapassar 2ºC ou mais até o fim do século 21 se o ritmo de emissões de gases do efeito estufa não diminuir. Para reduzir esse ritmo, são necessárias transformações em setores como o de energia e transportes. Em um futuro 2ºC, 3ºC ou 6ºC mais quente, a mudança do clima deve afetar (em grau maior ou menor) a economia, a saúde pública e o meio ambiente.
Com o desmatamento em alta na Amazônia e desmonte das políticas ambientais desde o início do governo de Jair Bolsonaro, o país chega à COP26 isolado politicamente e com má reputação na área ambiental.
Na terça-feira (26), relatório da ONU mostrou que o Brasil foi um dos únicos a recuar em sua meta para o Acordo de Paris, sugerindo, na proposta mais recente, lançar mais emissões do que havia dito em 2015.
Em outra notícia, publicada na quinta-feira (28), o Observatório do Clima mostrou que, enquanto na média global as emissões caíram 6,7% em 2020 por conta da pandemia, no Brasil elas aumentaram 9,5% . O principal responsável pela alta foi o desmatamento.
Joaquim Pereira Leite em audiência pública na Câmara dos Deputados
O país busca reverter a imagem ruim na COP26. Em sua delegação, estão os ministros Joaquim Leite (Meio Ambiente), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Fábio Faria (Comunicações), além de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Bolsonaro não irá à COP. A delegação brasileira será a segunda maior do evento, com 100 pessoas, incluindo 12 governadores.
Entre os assuntos prioritários para o país estão os debates em torno do mercado de carbono, cuja definição pode trazer benefícios para o Brasil. Com esse mercado, outros países podem investir em projetos ambientais no Brasil para compensar suas emissões, por exemplo.
O país também deve buscar desfazer a impressão que deixou na COP25, em 2019. Na ocasião, a comitiva brasileira, chefiada pelo ex-ministro Ricardo Salles, foi pouco flexível nas negociações e criou obstáculos para o fechamento de acordos sobre os mercados de carbono.
Área desmatada na região amazônica de Itaituba, no Pará
O país também deve ser pressionado em relação às suas metas de emissões e ao combate ao desmatamento. Segundo o jornal O Globo, a delegação brasileira afirmou que o país deve levar novos compromissos ligados a esses temas para a COP.
Apesar dos retrocessos recentes na política ambiental, o Brasil é considerado central para o combate à mudança do clima. A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, com grande potencial para reduzir os efeitos da crise climática, dada sua capacidade de reter carbono.
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