Expresso

O que se sabe sobre a ômicron um mês após sua descoberta 

Mariana Vick

25 de dezembro de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h36)

Estudos sobre nova variante do coronavírus ainda são preliminares. Disseminação da cepa já levou países da Europa a retomar restrições e motivou autoridades do Brasil a exigir passaporte vacinal

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FOTO: ANDREW KELLY/REUTERS – 22.DEZ.2021

Pessoa faz teste de covid-19 em Nova York, nos EUA. Ela usa touca e roupas de frio na cor preta. Sua máscara está abaixada. Outra pessoa, usando uma luva azul, extrai o material para o teste de seu nariz.

Pessoa faz teste de covid-19 em Nova York, nos EUA

Completa-se neste domingo (26) um mês desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou a ômicron como uma “ variante de preocupação ”. A cepa mais recente do novo coronavírus havia sido descoberta dias antes por cientistas da África do Sul.

Espalhada por quase 90 países, a ômicron desafia as autoridades médicas. Neste texto, o Nexo explica o que se sabe sobre a variante, com base em estudos preliminares sobre os casos identificados até agora. Cientistas ressaltam que o conhecimento sobre a variante ainda está sendo construído.

O que há na variante ômicron

A ômicron é uma variante do novo coronavírus considerada preocupante pela grande quantidade de mutações, que poderia torná-la muito diferente das variantes conhecidas. São 50 — 32 delas na proteína Spike, usada pelo vírus para entrar nas células humanas.

A ômicron é a quinta variante do coronavírus a ser classificada como preocupante pela OMS. Além dela, também são cepas de preocupação a alfa, a beta, a gama e a delta — esta até então responsável pela maioria dos novos casos de covid-19.

FOTO: SARAH MEYSSONNIER/REUTERS – 3.DEZ.2021

Imagem mostra mulher agasalhada, com máscara e segurando um guarda-chuva em rua movimentada em Paris, na França

Mulher com máscara se protege da chuva em rua de Paris, na França

É comum que vírus como o que causa a covid-19 tenham variantes. Quando encontra um hospedeiro, o coronavírus faz “cópias” de si mesmo, e nesse processo é possível que surjam versões com mutações. Quando uma mutação consegue se replicar em nível significativo, ela se torna uma variante.

Embora seja considerada preocupante, a grande quantidade de mutações da ômicron não necessariamente indica que a cepa é mais grave que as anteriores. Cientistas ainda tentam entender as características da ômicron e suas consequências para a saúde pública.

Depois de a África do Sul ter descoberto os primeiros casos da variante em 24 de novembro, cientistas na Holanda anunciaram que a ômicron já estava no país antes disso. A notícia levantou dúvidas sobre a origem da cepa. Ainda não há conclusão sobre onde e como ela se originou.

O que se sabe sobre a transmissão

Estudo preliminar divulgado na sexta-feira (17) pela Faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong mostrou que, em comparação com a delta, a ômicron se multiplica 70 vezes mais rapidamente nos brônquios humanos (estruturas que ligam traqueia e pulmões).

A pesquisa, ainda não analisada por pares e não publicada em revista científica, pode explicar por que a ômicron é provavelmente mais transmissível, como indicam evidências preliminares citadas pela OMS com base em dados da África do Sul e de outros países.

FOTO: SIPHIWE SIBEKO/REUTERS – 14.JAN.2021

Através da janela de uma tenda de atendimento médico, uma profissional vestida com trajes de proteção insere um cotonete na narina de um paciente

Pessoa é testada para covid-19 durante período de lockdown na cidade de Lenasia, África do Sul

Na África do Sul, a ômicron já respondia no fim de novembro por 88% dos novos casos de covid-19. Nos EUA, esse valor chegou a 73% na segunda-feira (20). Na quarta (22), o Reino Unido, também atingido pela variante, ultrapassou 100 mil novos casos de covid-19 pela primeira vez desde o início da pandemia.

19 dias

foi o tempo até que a ômicron se tornasse a variante dominante nos EUA

Segundo a OMS, as primeiras evidências mostram que a ômicron é “muito transmissível”. Apesar disso, a agência diz que ainda é cedo para dizer se a variante é mais transmissível que a delta, que ainda é considerada dominante na maior parte dos países.

Na quarta-feira (22), estudo do Imperial College London, no Reino Unido, mostrou que a ômicron também pode trazer mais risco de reinfecção para quem teve covid-19. O risco é 5,4 vezes maior do que o medido para outras cepas, como a delta. O estudo também é preliminar e não foi revisado por pares. Só depois disso, será possível dizer de forma mais categórica que o risco de reinfecção é maior.

O que se sabe sobre a gravidade

Apesar de indicar que a ômicron é mais transmissível, o estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong aponta que a ômicron é menos severa do que outras variantes, porque perde a capacidade de replicação quando chega aos pulmões.

Estudo preliminar mais recente no Reino Unido sugere o mesmo. Na quarta-feira (22), cientistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, apontaram que menos pessoas com a ômicron estão precisando de hospitalização na comparação com outras variantes. A pesquisa ainda não foi revisada por pares.

66%

foi quanto reduziu, em média, o número de pessoas que precisaram de cuidados hospitalares na Escócia com a ômicron em comparação com a delta, segundo o estudo

Outro estudo preliminar divulgado na terça-feira (21) na África do Sul mostrou que pacientes com ômicron tiveram de 70% a 80% menos chances de precisar de cuidados hospitalares. Entre as pessoas hospitalizadas, porém, o desenrolar da doença foi o mesmo que de pessoas infectadas com outras variantes.

Para os pesquisadores, mesmo com a severidade reduzida, o risco da ômicron ainda é significativo. Com o rápido espalhamento da variante, existe o risco de que muitas infecções ocorram ao mesmo tempo — o que, mesmo no caso de uma cepa mais branda, pode sobrecarregar os sistemas de saúde.

No dia 13 de dezembro, o Reino Unido registrou a primeira morte conhecida pela variante ômicron. Na segunda-feira (20), o número havia subido para 12 . Na terça (21), os EUA confirmaram a primeira morte pela variante em um homem de 50 anos que não havia se vacinado.

O que se sabe sobre a vacinação

Com o surgimento da ômicron, parte das farmacêuticas que criaram as principais vacinas usadas contra a covid-19, como a Pfizer, a AstraZeneca e a Moderna, têm investigado se a nova variante, que tem grande número de mutações, escapa da proteção conferida pelos imunizantes.

A Pfizer afirmou no dia 8 de dezembro que uma série de três doses de sua vacina contra a covid-19 foi capaz de neutralizar a ômicron em testes de laboratório. Segundo a farmacêutica, duas doses resultaram em anticorpos significativamente mais baixos.

FOTO: PILAR OLIVARES/REUTERS – 27.OUT.2021

Uma mulher aplica vacina em outra mulher no meio de uma estação de ônibus no Rio, com movimento de pessoas em volta. Ambas estão de máscara

Mulher recebe vacina contra a covid-19 em estação de ônibus, no Rio de Janeiro

Esse resultado corrobora o de um estudo preliminar divulgado por um laboratório na África do Sul na segunda semana de dezembro. A pesquisa indica que duas doses da Pfizer continuam induzindo proteção contra casos graves, mas três são capazes de neutralizar a variante.

Na segunda-feira (20), a Moderna afirmou que sua terceira dose induziu um alto índice de proteção contra a ômicron — mais significativo que apenas a segunda. Nesta quinta (23), um estudo da Universidade de Oxford com a vacina da AstraZeneca indicou o mesmo.

Segundo pesquisadores de Hong Kong, a terceira dose da Coronavac, uma das vacinas mais usadas no Brasil, não produziu níveis adequados de anticorpos contra a variante em testes preliminares. O grupo indica a terceira dose da Pfizer para maior eficácia.

FOTO: AMMAR AWAD/REUTERS – 13.AGO.2021

Imagem mostra mulher com luvas azuis e máscara preta segurando com as duas mãos uma seringa espetada de baixo para cima num frasco de vacinas. Ela parece sorrir

Profissional de saúde prepara vacina contra a covid-19 em clínica de Jerusalém

Apesar dos resultados, os estudos não sugerem que as vacinas perderam totalmente a efetividade contra a covid-19. A proteção do regime de duas doses para a maioria das vacinas diminui, mas não se anula. Farmacêuticas como a Pfizer também dizem estar testando uma nova vacina contra a ômicron.

Em novembro, em entrevista à agência Reuters, o imunologista Anthony Fauci, responsável pelo combate à pandemia nos EUA, chegou a dizer o conceito de “ totalmente vacinado ” contra a covid-19 pode mudar e passar a considerar a terceira dose.

A OMS questiona a estratégia do regime de três doses. No dia 8 de dezembro, a entidade declarou que ainda era cedo para afirmar se a dose de reforço é suficiente para neutralizar a ômicron e disse que aplicá-la poderia ampliar a desigualdade vacinal no mundo.

Quais as medidas para conter a ômicron

Apesar de ainda pouco se saber sobre a ômicron, as medidas de prevenção contra a infecção pelo coronavírus continuam as mesmas: vacinação, uso de máscaras, distanciamento físico e preferência por ambientes ventilados, entre outras.

Com o surgimento da variante, países que haviam flexibilizado as medidas de restrição, como parte da Europa, voltaram a decretá-las neste mês. Enquanto, no Reino Unido, festas foram canceladas, a Holanda decretou lockdown e os EUA preparam uma ampla ação de testagem contra a variante.

FOTO: REUTERS

Holanda decreta novo lockdown para conter covid-19

Mulher caminha de máscara nas ruas de Amsterdã, capital da Holanda

Diversos países também criaram restrições para viajantes do exterior, especialmente de países da África — medida que foi criticada pela OMS , por ter pouco impacto sobre a disseminação da variante e por, na prática, penalizar a África do Sul por ter descoberto a ômicron.

“Com a variante ômicron já detectada em várias regiões do mundo, colocar o foco das restrições na África ataca a solidariedade global”

Matshidiso Moeti

diretora do escritório da OMS na África, em declaração em 28 de novembro

Depois de uma série de episódios de resistência do governo federal, o Brasil passou a exigir o passaporte vacinal para a entrada de qualquer pessoa do exterior que chegue ao país. A medida atendeu a uma ordem do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.

Na quarta-feira (22), o país tinha 32 casos registrados da ômicron, segundo o Ministério da Saúde. Vinte dessas infecções estão no estado de São Paulo. Havia ainda 23 casos em investigação, a maioria no Rio Grande do Sul. Nenhuma morte havia sido registrada até o momento.

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