Expresso

Da ‘flurona’ à sobrecarga: os riscos das altas de covid e gripe

Isabela Cruz

04 de janeiro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h17)

Casos de coinfecção pelos dois vírus têm sido registrados em São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, num momento em que cidades voltam a se preocupar com a superlotação dos hospitais

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FOTO: RODOLFO BUHRER/REUTERS – 19.MAR.2020

Profissional segura equipamentos médicos em laboratório

Profissional de saúde analisa lote de testes de covid-19 em laboratório em Curitiba

Num cenário de relaxamento do uso de máscaras, de aumento do número de casos de covid e de um surto de gripe, a população brasileira passa a conhecer mais um novo termo sanitário: “flurona”, a junção das palavras “flu” e “coronavírus”, para designar a infecção pelos vírus da influenza (gripe) e da covid-19 ao mesmo tempo.

Casos do tipo têm sido registrados desde 2020 e, segundo especialistas, muitos podem ter ocorrido sem sequer terem sido diagnosticados para além da covid. Eles ganham relevância no momento atual, porém, porque diversos países, inclusive o Brasil, voltam a se deparar com a possibilidade de superlotação dos hospitais.

Neste texto, o Nexo mostra as semelhanças e diferenças entre os dois tipos de doença, assim como as possíveis consequências da dupla-infecção. Também explica a situação da flurona no Brasil e quais as expectativas dos especialistas.

As duas doenças

SINTOMAS

Os sintomas das duas doenças respiratórias são semelhantes. Incluem febre, tosse persistente, coriza, espirros e dores de cabeça, de garganta e no corpo. No caso da covid, a perda de paladar e de olfato, bastante comum nas infecções pelas primeiras variantes do novo coronavírus, passou a ser relatada com menos frequência, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

TEMPO

Já o tempo de detecção das doenças costuma ser diferente . Enquanto os sintomas de gripe são mais intensos nas primeiras 48 a 72 horas da infecção, os sintomas da covid ficam mais intensos após o quinto dia, segundo a infectologista Maura Salaroli, do Hospital Sírio-Libanês, em reportagem da Istoé Dinheiro.

TESTE

Por causa das semelhanças entre os sintomas, o diagnóstico das doenças não pode ser realizado apenas pelos efeitos percebidos clinicamente. Os exames do tipo painel viral permitem a detecção dos dois tipos de vírus ao mesmo tempo. Esses testes têm sido feitos em laboratórios privados. Em razão da pandemia de covid-19, os laboratórios públicos estão priorizando a realização de testes para identificar o coronavírus , segundo o jornal O Globo.

PREVENÇÃO

Para os dois vírus, as estratégias de prevenção são as mesmas: uso de máscaras, distanciamento social, ventilação do ambiente, higienização frequente das mãos e vacinação. As vacinas da gripe disponíveis atualmente nas redes pública e privada , embora precisem de atualizações para serem mais eficazes contra a nova cepa que está em circulação (H3N2 darwin), já ajudam a proteger os vacinados contra a doença. O Instituto Butantan, que fornece os imunizantes da gripe para o Ministério da Saúde, vai começar a produzir a versão atualizada do produto no mês de janeiro.

A dupla-infecção no Brasil

Na cidade de São Paulo, a Secretaria Municipal de Saúde informou nesta terça (4) que todos os pacientes hospitalizados com SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) passam por um processo de coleta de amostras para pesquisa dos vírus da influenza e da covid-19. Foram 24 registros de coinfecção na capital. O governo estadual também divulgou números nesta terça-feira.

110

casos de flurona já foram registrados no estado paulista , segundo dados do Sivep-Gripe (Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe)

No mesmo dia, o secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, informou em entrevista à rádio CBN que a cidade tinha 17 possíveis casos de flurona em investigação.

O governo do Ceará confirmou três casos na capital no dia 29 de dezembro, incluindo dois bebês de um ano, que foram internados mas já tiveram alta, e um adulto, que não precisou de internação. O Ceará e o Rio foram os primeiros estados brasileiros a fazerem o registro da flurona.

Os estudos sobre a gravidade

Alguns estudos publicados em 2020 apontam para maiores possibilidades de agravamento do estado de saúde do paciente nos quadros de coinfecção. Foi o que mostrou, por exemplo, uma publicação de pesquisadores ingleses no periódico International Journal of Epidemiology , que avaliou casos do tipo entre janeiro e abril daquele ano.

Os dados, porém, ainda não são suficientes para conclusões. “Uma infecção por dois patógenos que causam danos aos mesmos tecidos [partes de um órgão], como é o caso de uma coinfecção por dengue e chikungunya, sempre tem o potencial de agravamento. Mas ainda é muito cedo para dizer se o quadro de fato é agravado quando se tem covid e influenza ao mesmo tempo”, afirmou ao Nexo a virologista Luciana J. Costa, professora associada do Instituto de Microbiologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Segundo Costa, as coinfecções já eram esperadas, porque os dois vírus compartilham a mesma via de transmissão (aérea). Ela afirma, porém, ainda ser necessária uma análise detalhada dos registros, para se entender os efeitos da dupla-infecção levando em consideração a faixa etária dos pacientes, suas comorbidades e se eles foram vacinados para as duas doenças ou não.

Médica infectologista do Hospital Sírio Libanês, Mirian Dal’Ben concorda com Costa. “O importante é que as pessoas precisam saber que a gente não tem nada ainda na ciência que fale pra gente que pegar as duas coisas ao mesmo tempo aumenta as chances da pessoa morrer ou que faça a doença talvez ser mais leve . Nenhuma das duas coisas”, disse Dal’Ben ao portal G1.

Costa explicou que a coinfecção pode contribuir para minimizar os sintomas porque a resposta do organismo a um dos vírus pode beneficiar a resposta contra o outro. “A coinfecção pode até ser benéfica, mas ainda precisamos ter cautela e analisar os dados”, disse ela.

Sobrecarga hospitalar

Independentemente do agravamento ou não dos sintomas, as duas doenças preocupam mesmo se contraídas separadamente ainda que a vacinação venha impedindo que a enorme maioria dos casos se converta em mortes.

Isso porque um aumento repentino do número de infecções pode levar ao esgotamento do sistema de saúde, prejudicando inclusive a detecção de casos mais graves ou mesmo de outras doenças. A preocupação é mundial , em razão da variante ômicron, de transmissão mais fácil do que as suas antecessoras. No Brasil, além disso, a cepa da influenza que circula atualmente, a darwin, é mais agressiva do que as de outros momentos.

Na Grande São Paulo, por exemplo, a capital e os municípios vizinhos registraram 251 internações em leitos destinados a covid-19 na terceira semana de dezembro, o maior patamar em dois meses. Em outros lugares do país, hospitais já estão esgotados.

Em Belo Horizonte, todos os 220 leitos públicos de enfermaria para covid e gripe da cidade estavam ocupados no domingo (2). Em relação aos leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) reservados para covid-19, que somam 104 na rede pública da cidade, a ocupação era de 78,8% no boletim oficial desta terça (4). O percentual representa um aumento de 15 pontos percentuais em relação ao boletim anterior, publicado no dia 30 de dezembro (63,5%).

Pacientes com síndromes gripais também superlotam a rede pública de Fortaleza, onde a rede privada também se esgota. Desde o início de dezembro, a procura por atendimento aumentou mais de sete vezes na rede municipal, segundo reportagem de 1º de janeiro do Jornal Nacional, da TV Globo.

No estado de Pernambuco, 265 pacientes com doenças respiratórias nesta terça (4) aguardam leitos serem liberados para receberem o tratamento adequado contra covid-19 e gripe. Do total da espera, 143 solicitações se referem a UTIs.

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