Como Bolsonaro amarra sua aliança para buscar a reeleição
Isadora Rupp
29 de março de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h43)Presidente pulveriza filiações do primeiro escalão no PL, no Progressistas e no Republicanos em troca de apoio que vai render mais tempo de rádio e TV e mais verba pública na campanha
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Jair Bolsonaro com a apoiadores em evento do PL, no dia 27 de março de 2022
O centrão reúne parlamentares de inúmeros partidos e já teve diferentes versões ao longo de sua atuação no Congresso, sempre aliado ao governo da vez. Para a campanha de 2022, um núcleo mais restrito do grupo vai apoiar a tentativa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Estão nesse núcleo o PL, partido ao qual Bolsonaro se filiou em novembro de 2021, o Progressistas e o Republicanos.
A estratégia presidencial é pulverizar a filiação de ministros do governo e outros apoiadores de destaque que tenham pretensões eleitorais nos três partidos. Em troca, Bolsonaro terá o apoio financeiro do fundo eleitoral e tempo de rádio e TV, além de garantir palanques estaduais durante a campanha que começa oficialmente em 16 de agosto.
Neste texto, o Nexo retoma a aproximação de Bolsonaro com o centrão e explica a aliança presidencial, assim como as dificuldades que ela poderá enfrentar até a votação de 2 de outubro.
Bolsonaro passou um ano e meio sem articulação clara no Congresso, deixando a pauta nas mãos de parlamentares que compartilhavam interesses do governo especialmente na área econômica. Foi assim que o presidente conseguiu aprovar a reforma da Previdência em 2019, sob a coordenação do então presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
A situação mudou em meados de 2020 . O centrão, que se caracteriza por apoiar governos em troca de espaços na máquina pública e acesso privilegiado ao Orçamento. Era um momento de dificuldades, em que a oposição já começava a falar em impeachment diante das ameaças presidenciais ao Supremo e da sua atitude negacionista na pandemia de covid-19. O grupo então começou a ganhar ministérios e a ter acesso a verbas por meio das emendas do relator, ou “orçamento secreto” , como elas ficam conhecidas.
Bolsonaro consolidou a aliança com o centrão ao apoiar a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara. O partido de Lira, o PP (ou Progressistas), virou um aliado fiel. O PL de Valdemar Costa Neto , ex-deputado condenado no escândalo do mensalão petista, assim como o Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, completaram o núcleo mais próximo do Palácio do Planalto.
Bolsonaro escolheu o PL para se filiar , e também conta com a simpatia de parlamentares de outros partidos, como o União Brasil, o PSD e o PTB. A aliança do Congresso afastou qualquer possibilidade de impeachment, mesmo depois que as ameaças do presidente contra o Supremo recrudesceram em meados de 2021.
A aliança que une PL, Progressistas e Republicanos proporciona uma realidade bem diferente daquela em que Bolsonaro foi eleito em 2018. Filiado ao pequeno PSL, o então capitão reformado e deputado tinha um tempo mínimo de rádio e TV e pouca verba do fundo eleitoral.
O PSL tinha eleito apenas 1 dos 513 deputados em 2014. É esse número que define o tamanho do fundo e do espaço de propaganda na eleição seguinte. Agora em 2022, a situação muda com a amarração da aliança entre os três partidos do centrão.
33
é o número de deputados eleitos pelo PL em 2018
38
é o número de deputados eleitos pelo Progressistas em 2018
30
é o número de deputados eleitos pelo Republicanos em 2018
Com a janela partidária, período em que deputados podem mudar de partido que se encerra na sexta-feira (1º), as três legendas cresceram, mas para fins e distribuição de fundo eleitoral e tempo de rádio e TV o que vale ainda é a eleição para a Câmara em 2018.
As alianças para a candidatura presidencial serão definidas oficialmente nas convenções partidárias, que ocorrem entre 20 de julho e 5 de agosto.
O PL terá o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, como provável vice de Bolsonaro . Terá o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, concorrendo ao governo do Rio Grande do Sul.
Terá também o ministro da Cidadania, João Roma, concorrendo ao governo da Bahia, além de outros membros do primeiro escalão concorrendo ao Senado e à Câmara. O secretário da Cultura, Mário Frias, além do presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, estão atrás de vagas para deputado.
O Progressistas terá a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, concorrendo ao Senado por Mato Grosso do Sul.
Hamilton Mourão, hoje vice de Bolsonaro, vai concorrer a uma vaga no Senado pelo Republicanos gaúcho. Os ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) também se filiaram ao partido ligado à Igreja Universal. Tarcísio sairá candidato ao governo de São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, e Damares ainda não decidiu se será candidata; é provável que ela concorra a uma vaga como deputada pelo Distrito Federal.
Tarcísio de Freitas e Damares Alves em evento de filiação ao Republicanos, no dia 28 de março de 2022
Ainda em termos de palanque regional, Bolsonaro deve contar com o apoio de Cláudio Castro, governador do Rio que deve tentar reeleição pelo PL. Outro grande colégio eleitoral do Brasil, Minas Gerais é governado por Romeu Zema, do partido Novo. Mesmo sendo de um partido que não integra a aliança pela reeleição, Zema tem apoiado o governo.
A ida de bolsonaristas e aliados ao PL mexe com alianças regionais históricas, segundo a cientista política Monalisa Torres, professora de Teoria Política na UECE (Universidade Estadual do Ceará).
Ela cita como exemplo o nome do prefeito de Eusébio (CE), Acilon Gonçalves, presidente da sigla de Bolsonaro no estado e aliado histórico do pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes.
“Nas últimas duas visitas de Bolsonaro, ele [Gonçalves] precisou dizer que vai seguir as orientações do partido nacional. O que mexe com a formação dos palanques regionais, algo importante para o Bolsonaro no Ceará, um estado muito lulista e com a figura forte de Ciro Gomes”, disse Torres ao Nexo .
Há ainda integrantes do PL que têm simpatia à pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente concentra esse apoio especialmente no Nordeste. Essa dissonância entre a aliança nacional e os apoios informais regionais deve aparecer durante a campanha.
“Assim como muitos partidos, o PL não tem bases regionais fortes e formar blocos regionais não será simples. Tanto o PL como o PP e o Republicanos votam hoje a favor do governo pelo benefício das emendas. No momento eleitoral, os partidos ficarão divididos”, disse ao Nexo Joscimar Souza, professor de Ciência Política na UFPI (Universidade Federal do Piauí).
“Para esses partidos, o importante é manter uma posição política confortável para manutenção em cargos ministeriais e estatais, seja qual for o governo”, completou Souza.
Com um cenário de segundo turno se desenhando entre Lula e Bolsonaro, é possível que a aliança em torno do presidente se amplie, por causa do antipetismo. Mas não se trata de algo natural, como ocorreria com qualquer outro titular do Palácio do Planalto.
“O presidente disputando reeleição é, naturalmente, coordenador do processo eleitoral. Mas não devemos esperar isso de Bolsonaro, que é fraco politicamente e chega com um legado muito negativo em função da sua administração e de crises criadas artificialmente por sua postura na gestão de temas como meio ambiente, pandemia e agora esse recente escândalo do MEC . No jogo de responsabilização, a culpa irá para seu governo. E isso gera cautela entre os partidos, mesmo os que estão próximos”, disse ao Nexo Magna Inácio, professora do Departamento de Ciência Política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
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