O histórico das eleições presidenciais a 6 meses da votação
Isabela Cruz
02 de abril de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h43)Das oito disputas pelo Planalto com voto direto desde o fim da ditadura, três acabaram com um vencedor que ainda não liderava as pesquisas. De Collor em 1989 a Bolsonaro em 2018, relembre o que aconteceu
Temas
Compartilhe
Ex-presidentes do Brasil, durante cerimônia de instalação da Comissão da Verdade, que investigou os crimes da ditadura militar
O quadro no Brasil a seis meses das eleições presidenciais de 2 de outubro de 2022 têm dois claros favoritos: Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente que tenta voltar ao Palácio do Planalto, e Jair Bolsonaro, presidente que tenta renovar o mandato. Outros concorrentes não chegam a dois dígitos nas pesquisas.
No levantamento do instituto Datafolha realizado em 22 e 23 de março, Lula (PT) tem 43% de intenção de votos e Bolsonaro (PL) tem 26%. Sergio Moro ficou 8%. Ciro Gomes (PDT) ficou com 6%, André Janones (Avante) tem 3% e João Doria (PSDB) tem 2%. O código da pesquisa registrada no Tribunal Superior Eleitoral é BR-08967/2022
Lula antes de entrevista em São Paulo
Os candidatos que se apresentam como terceira via estão em crise. Falta intenção de voto e unidade em torno deles. Na quinta-feira (31), Moro, ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro de Bolsonaro, mudou de partido, do Podemos para o União Brasil, de domicílio eleitoral, do Paraná para São Paulo, e disse que iria desistir da corrida presidencial. Depois afirmou que não era bem assim, que ainda mantinha pretensões de chegar ao Planalto. Mas o União Brasil diz que garante a legenda apenas para que ele tente ser deputado ou senador.
Moro durante seu pronunciamento em São Paulo nesta sexta-feira (1º)
Vencedor das prévias tucanas em novembro de 2021, Doria ameaçou ficar no governo paulista e desistir da corrida presidencial pelo PSDB. Depois manteve o plano original ao receber uma chancela por escrito da direção nacional do partido na quinta-feira (31). Ele enfrenta resistências de grupos que preferem o nome de Eduardo Leite, que deixou o governo do Rio Grande do Sul com vistas às eleições.
O governador de São Paulo João Doria, em evento em São Paulo
O Brasil vive um momento econômico difícil. Vem se recuperando do impacto da pandemia de covid-19, mas o desemprego ainda é alto e a renda dos trabalhadores é a menor em uma década. A inflação cresce, agravada pelo aumento dos preços dos combustíveis, sob influência da guerra na Ucrânia.
O governo é reprovado por 46%, segundo o Datafolha. Bolsonaro, porém, vem obtendo melhoras tanto na intenção de voto quanto na percepção sobre sua administração. O presidente mantém ataques a ministro do Supremo Tribunal Federal e ao sistema eleitoral, mantendo aceso o temor de que pode não aceitar o resultado das urnas.
O presidente Jair Bolsonaro, durante evento em Brasília
Neste texto, o Nexo relembra como estava a corrida presidencial em eleições passadas segundo as sondagens do Datafolha a aproximadamente seis meses do primeiro turno. Também mostra qual foi o resultado das urnas ao final.
COMO ESTAVA
Nas primeiras eleições diretas após a ditadura, o primeiro turno aconteceu em meados de novembro. No início de junho, Fernando Collor de Mello, então no PRN, já tinha conseguido se sobressair entre os outros 22 candidatos, com 42% das intenções de voto. Atrás, vinha Leonel Brizola (PDT), com 11%, seguido de nomes que não passavam dos dois dígitos, como Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Mário Covas (PSDB), Ulysses Guimarães (PMDB) e Paulo Maluf (PDS).
NO QUE DEU
Collor acabou caindo nas pesquisas na reta final, mas garantiu 28% dos votos no primeiro turno. Foi para o segundo turno com Lula, que cresceu ao longo do ano e alcançou 16% nas urnas, numa disputa apertada com Brizola pelo segundo lugar. Após debates televisivos que favoreceram Collor, ao menos depois de editados e retransmitidos , foi ele o vencedor das urnas, com 53%, contra 47% do petista.
COMO ESTAVA
Após o impeachment de Collor e o curto governo do vice Itamar Franco, Lula começou a pré-campanha das eleições seguintes com amplo favoritismo. Em abril, o Datafolha marcava 37% para Lula , seguido de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que havia acabado de deixar o comando do Ministério da Fazenda. No grupo abaixo dos dois dígitos, havia nomes como Brizola e Orestes Quércia (PMDB).
NO QUE DEU
Colhendo os frutos da estabilização econômica que ele havia iniciado como ministro, Fernando Henrique teve um crescimento vertiginoso, superando Lula no final de julho , após o lançamento do Plano Real, que controlou a inflação no país. Venceu no primeiro turno, 54% dos votos válidos , contra 27% de Lula, 7% de Enéas (Prona), 4% de Quércia e 3% de Brizola.
COMO ESTAVA
Já na cadeira de presidente, Fernando Henrique começou a pré-campanha muito à frente dos demais candidatos. Em meados de março, tinha 41% das intenções de voto, contra 25% de Lula. No mês de maio, o petista conseguiu praticamente empatar com o tucano, mas a diferença entre os dois logo voltou a se ampliar. Em terceiro estava Ciro Gomes, então do PPS, que tinha 10% em março. Ele se manteve próximo disso até o final. Enéas tinha 7%, mas depois despencou.
NO QUE DEU
Em termos da movimentação do eleitorado, essa foi a eleição menos conturbada desde a redemocratização, ainda que no ano anterior a imprensa tivesse revelado um esquema de compra de votos para que o Congresso aprovasse a possibilidade de reeleição no Brasil. Fernando Henrique negou participação no esquema e conseguiu se blindar contra denúncias e inquéritos parlamentares. O tucano foi reeleito ainda no primeiro turno, com 53% dos votos válidos. Lula ficou com 32%, Ciro manteve 11%, e Enéas, 2%.
COMO ESTAVA
Depois de dois mandatos do PSDB e da crise cambial que estourou no Brasil em 1999, o PT começou sua quarta tentativa de chegar à Presidência na liderança. Em abril, o Datafolha já marcava de 31% a 37% das intenções de voto para Lula, a depender dos pré-candidatos mostrados para os eleitores. O tucano José Serra variava de 19% a 26%. Os outros candidatos eram Anthony Garotinho, então do PSB, e Ciro Gomes, ainda no PPS. Em julho Ciro conseguiu se aproximar de Lula, mas depois caiu nas pesquisas.
NO QUE DEU
Com um discurso mais palatável por setores conservadores, como o mercado financeiro, Lula conseguiu liderar o primeiro turno, com 46% dos votos válidos. Serra, com 23%, foi quem alcançou o segundo lugar, mantendo a polarização PT-PSDB que marcaram a década anterior. Garotinho ficou com 18% e Ciro, 12%. Ao final, foi o petista que chegou à Presidência, com 61% dos votos válidos contra 39% do tucano.
COMO ESTAVA
Candidato a reeleição, Lula tinha um primeiro mandato marcado por sucesso econômico e pelo caso do mensalão, um esquema de compra de apoio parlamentar envolvendo pessoas do núcleo duro do governo. Ele começou a pré-campanha como favorito (acima dos 40% em abril), mas era grande a rivalidade com o PSDB, representado por Geraldo Alckmin (entre 20% e 25% em abril), que tinha renunciado ao governo paulista para concorrer. Em terceiro lugar, distante, vinha Heloísa Helena, do PSOL, seguida por Cristovam Buarque, do PDT.
NO QUE DEU
Lula não foi atingido formalmente pelas investigações do mensalão. Demitiu do governo figuras como José Dirceu, então chefe da Casa Civil, e conseguiu reverter a queda de popularidade com medidas como o programa Bolsa Família. Mas Alckmin, provável vice de Lula em 2022, também foi crescendo nas pesquisas ao longo do ano. Polarizado, o primeiro turno acabou com 49% dos votos para o petista e 42% para o tucano. Heloísa Helena marcou 7%. No segundo turno, Lula conseguiu a vitória, com 61% dos votos válidos.
COMO ESTAVA
Lula saía do governo com popularidade recorde e tentava fazer de Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil desconhecida do grande público, sua sucessora. Em março e abril, ela ainda aparecia nas pesquisas com 29% das intenções de voto, atrás de José Serra, que já tinha sido candidato à Presidência e estava próximo dos 40%. Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do PV, vinha em terceiro lugar, por volta dos 10% ao longo da maior parte da campanha.
NO QUE DEU
De maio a julho, Dilma e Serra ficaram praticamente empatados, mas na pesquisa de agosto a petista já aparecia na frente. Depois a diferença entre os dois foi ficando cada vez maior. No final da campanha, Marina conseguiu crescer, mas não passou dos 20% no primeiro turno. À frente, Serra recebeu 33%, e Dilma ficou na liderança, com 47% . No segundo turno, a petista se tornou a primeira mulher a chegar à Presidência do Brasil, com 56% dos votos válidos.
COMO ESTAVA
No ano seguinte às manifestações de junho de 2013, contra a classe política em geral, Dilma saiu à frente nas pesquisas. Em abril, tinha entre 38% e 43% das intenções de voto, a depender dos cenários apresentados. Na disputa pelo segundo lugar vinham Marina Silva e o senador mineiro Aécio Neves, do PSDB. No final de agosto, logo após a morte num acidente aéreo de outro candidato, o ex-governador pernambucano Eduardo Campos (PSB), Marina chegou a empatar com Dilma na liderança, mas depois começou a cair. No início de outubro, foi ultrapassada pelo tucano.
NO QUE DEU
Num ano eleitoral marcado pela queda de popularidade da presidente, em razão da forte deterioração econômica e da deflagração da Operação Lava Jato, Dilma obteve 42% dos votos e foi para o segundo turno contra o senador Aécio, que conseguiu 34%. Marina ficou com 21%. Numa disputa acirrada pelo segundo turno, a petista venceu por 4 pontos percentuais, com 52% dos votos válidos, contra os 48% recebidos pelo tucano – que depois viria a trabalhar pelo impeachment da rival, concretizado em 2016.
COMO ESTAVA
Após o governo de Michel Temer (MDB), que era vice e assumiu o Planalto com a queda de Dilma, eram vários os pré-candidatos à reeleição, como Lula, Alckmin, Ciro e Marina e, entre os novatos na disputa pelo Planalto, Bolsonaro (então no PSL) e João Amoêdo (Novo). Em março, Lula era líder nas pesquisas, com 45% das intenções de voto. Bolsonaro estava em segundo, com 26%. Em abril, foi preso pela Lava Jato e se enfraqueceu, ficando com 31% . Bolsonaro registrou 15%, e Marina se aproximou, com 10%.
NO QUE DEU
Com Lula inelegível pela Lei da Ficha Limpa, o PT deixou para substituí-lo na campanha por Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e também novato nas disputas pelo Planalto, apenas em meados de setembro . As pesquisas já mostravam que, sem Lula no páreo, Bolsonaro ficava em primeiro , por volta dos 20%. Em setembro, ele cresceu 10 pontos percentuais , após levar uma facada no abdômen. No primeiro turno, atingiu 46% dos votos válidos. Haddad ficou em segundo, com 29%. Em terceiro, Ciro, com 12%, seguido dos demais, que não atingiram nem 5%. No segundo turno, venceu Bolsonaro, com 55% dos votos válidos.
NEWSLETTER GRATUITA
Enviada à noite de segunda a sexta-feira com os fatos mais importantes do dia
Gráficos
O melhor em dados e gráficos selecionados por nosso time de infografia para você
Navegue por temas