Expresso

A queda do presidente da Caixa num escândalo de assédio sexual

Cesar Gaglioni

29 de junho de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h34)

Pedro Guimarães pede demissão após revelação de que é investigado pelo Ministério Público. Reportagem do portal Metrópoles trouxe relatos de funcionárias do banco

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FOTO: AMANDA PEROBELLI/REUTERS – 02.05.2019

Pedro Guimarães, presidente da Caixa, em 2019

Pedro Guimarães, presidente da Caixa, em 2019

O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, pediu demissão nesta quarta-feira (29) após a revelação de que ele é investigado pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal após denúncias de assédio sexual feitas por funcionárias do banco. Parte dos relatos veio a público na terça-feira (28) em reportagem do portal Metrópoles.

A investigação sobre sua conduta corre em sigilo. Segundo o Metrópoles, os episódios de assédio aconteceram sobretudo durante viagens de trabalho de Guimarães, que está à frente do banco desde o início do governo Bolsonaro, em 2019. Em uma carta de demissão, divulgada na quarta (29), ele nega os relatos e chama a situação de ” cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade”.

O governo federal anunciou Daniella Marques , secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, como nova presidente do banco. Ela está na equipe econômica desde 2019 e é nome de confiança do ministro Paulo Guedes.

Neste texto, o Nexo conta quem é Pedro Guimarães, quais as acusações contra ele e as reações às revelações de assédio.

Quem é Pedro Guimarães

O economista Pedro Guimarães foi empossado à frente da Caixa no início do governo Jair Bolsonaro. Aliado próximo do presidente, ele é o convidado com mais participações nas tradicionais lives presidenciais de quinta-feira nas redes sociais e presença constante em eventos oficiais.

A Caixa se tornou peça central da gestão de Bolsonaro ainda na pandemia, por ser o vetor dos pagamentos do auxílio emergencial. O banco também operacionaliza o Auxílio Brasil, principal bandeira do presidente na sua tentativa de reeleição, e outros programas para a base bolsonarista, como uma linha de crédito imobiliário subsidiado para agentes de segurança.

Além disso, o banco teve papel central na desmobilização de manifestos de empresas e bancos contra as manifestações golpistas de Bolsonaro às vésperas dos atos de 7 de setembro de 2021.

Desde 2021, Guimarães começou a enfrentar denúncias de funcionários da Caixa. Ele foi acusado de assédio moral por ter feito subordinados “pagarem flexões” durante um evento de fim de ano. O comandante do banco chegou a ser notificado pelo Ministério Público do Trabalho, que recomendou que ele não repetisse o episódio. O economista foi acusado de imitar Bolsonaro. Em diversas ocasiões, o presidente também incitou militares e policiais a fazerem flexões em eventos públicos.

Não foi a primeira vez que Guimarães foi flagrado fazendo agrados a Bolsonaro. Em uma reunião interministerial que veio a público em 2020, o presidente da Caixa disse que usaria uma de suas “quinze armas ” para “matar ou morrer” caso algum agente de segurança o detivesse por infringir regras de isolamento social na pandemia de covid-19.

Os relatos

A investigação conduzida pelo Ministério Público colheu relatos de dez mulheres que disseram ter sido assediadas por Guimarães. O Metrópoles ouviu cinco delas, em condição de anonimato.

“É comum ele pegar na cintura, pegar no pescoço. Já aconteceu comigo e com várias colegas”, disse uma funcionária. “Ele trata as mulheres que estão perto como se fossem dele.”

Essa mesma pessoa afirmou que Guimarães só escolhia “mulher bonita” para viajar. “Tem um padrão. Mulher bonita é sempre escolhida para viajar. Ele convida para as viagens as mulheres que acha interessantes.”

Era comum também que o presidente da Caixa pedisse a funcionárias que levassem itens para ele em seu quarto nos hotéis, segundo os relatos. Em pelo menos uma ocasião, ele teria convidado uma delas a entrar para “discutir sua carreira”.

Guimarães também teria apalpado as partes íntimas de suas subordinadas, como seios e nádegas. Uma funcionária disse que um assessor dele chegou a interpelá-la perguntando: “e se o presidente quiser transar com você?”

Em outras ocasiões, teria submetido mulheres a constrangimentos públicos, sugerindo que organizaria uma “micareta privê” em uma viagem a Porto Seguro, onde todos “ficariam nus”.

Em nota, a Caixa disse que não tem conhecimento sobre as denúncias. “A Caixa esclarece que adota medidas de eliminação de condutas relacionadas a qualquer tipo de assédio. O banco possui um sólido sistema de integridade, ancorado na observância dos diversos protocolos de prevenção, ao Código de Ética e ao de Conduta.”

Caso o Ministério Público conclua que as denúncias configuram assédio sexual e importunação sexual e Guimarães for processado em juízo, ele responderá por crimes que preveem penas de 1 a 5 anos de prisão.

A repercussão

Após os relatos virem à tona, a Caixa cancelou uma entrevista coletiva sobre o Ano Safra 2022/23, prevista para esta quarta-feira (29), que contaria com a presença de Guimarães. Na manhã de quarta-feira (29), o banco voltou atrás e promoveu o evento. Guimarães apareceu ao lado da esposa, e se limitou a dizer que tem “a vida pautada pela ética”.

Na carta em que anunciou sua demissão na quarta-feira (29), Guimarães disse que as acusações não são verdadeiras. “Na atuação como Presidente da Caixa, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações”, escreveu.

Aliados pressionaram Bolsonaro a demitir Guimarães, já que a sua manutenção no cargo poderia aumentar a pressão sobre o governo num momento em que o presidente cambaleia nas pesquisas, em meio à uma forte crise econômica e a um escândalo de corrupção no Ministério da Educação.

Bolsonaro não se manifestou publicamente sobre o caso. Ouvido pelo Metrópoles, o vice-presidente Hamilton Mourão pediu que as denúncias sejam apuradas .

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