Expresso

Conheça o candidato do PDT à Presidência da República

Ana Elisa Faria

17 de agosto de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h43)

O ‘Nexo’ continua a publicar as biografias dos postulantes ao Palácio do Planalto. Este capítulo mostra a trajetória de Ciro Gomes, que concorre pela quarta vez numa eleição presidencial

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FOTO: LEONARDO ANDREIKO/PDT

Ciro Gomes é o candidato à presidência do PDT

Ciro Gomes é o candidato à presidência do PDT




Ciro Ferreira Gomes é o candidato do PDT à Presidência da República nas eleições de 2022. Nasceu em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, em 6 de novembro de 1957. Tem, portanto, 64 anos.

É o filho mais velho de José Euclides Ferreira Gomes Júnior, um defensor público e político cearense, e de Maria José Santos Ferreira Gomes, professora, ambos já falecidos. Tem quatro irmãos, dois deles também ligados à política . O candidato é pai de quatro filhos, Lívia, Yuri, Ciro e Gael. Desde 2017, é casado com Giselle Bezerra.

R$ 3.039.761,97

é o patrimônio declarado por Ciro Gomes ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2022

O que fez até disputar a primeira eleição

Nasceu no interior paulista, mas ainda pequeno, aos quatro anos, mudou-se com os pais para Sobral, no Ceará, estado de onde herdou o sotaque e onde iniciou sua trajetória política na esteira da família, os Ferreira Gomes.

Ciro viveu em Sobral até a adolescência. Em 1976, mudou-se para a capital, Fortaleza, para cursar direito na UFC (Universidade Federal do Ceará). Na faculdade, deu os primeiros passos no universo político.

Começou participando da campanha eleitoral do pai pela Prefeitura de Sobral e, depois, integrou o movimento estudantil. Na época de universitário, integrava o Habeas-Corpus, um grupo da esquerda católica, na definição dele.

“Eu era um cara meio trotskista [corrente inspirada em Leon Trótski, político soviético]. (…) Tentava entender o capital profundamente”, contou Ciro em entrevista a uma emissora de televisão em 2013.

Depois de formado, ele voltou a Sobral, onde trabalhou como advogado e professor universitário. Naquele período, seu pai ainda era prefeito da cidade. Por indicação dele, Ciro tornou-se procurador da prefeitura entre 1980 e 1982.

Os cargos políticos que ocupou até aqui

Em 1982, Ciro disputou a primeira eleição para deputado estadual pelo PDS. Elegeu-se e, em 1986, de casa nova (no PMDB), foi reeleito, porém, não concluiu o mandato. No ano de 1988, decidiu disputar a Prefeitura de Fortaleza e venceu sua primeira disputa para o Executivo, aos 30 anos.

Com boa avaliação, o então prefeito abriu mão do cargo para se candidatar, pelo PSDB, ao governo do Ceará em 1990, sendo eleito logo no primeiro turno. Quando fala de sua gestão no estado, Ciro costuma citar a redução da taxa de mortalidade infantil, ação que rendeu a ele e a seu antecessor, Tasso Jereissati (PSDB), uma premiação do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em 1993.

Em 1994, Ciro era um dos governadores mais bem avaliados do país, com 74% de aprovação . A despeito da popularidade, o governador antecipou a saída do cargo para assumir o Ministério da Fazenda na reta final do governo Itamar Franco, responsável pela implantação do Plano Real.

Os quase quatro meses como ministro foram marcados por ações consideradas controversas por parte da equipe econômica (como a redução de alíquotas de importação de centenas de produtos) e por declarações polêmicas – característica que mantém até hoje e que já lhe rendeu, até o ano de 2018, cerca de 70 processos , a maioria por danos morais ou queixas de calúnia e difamação, segundo levantamento do site Jota.

“Quem cobra ágio é ladrão e quem paga é otário. (…) Querem me caracterizar como grosseiro, mas falo a verdade, pode até chover canivete”

Ciro Gomes

então ministro da Fazenda, em declaração a jornalistas em 2 de novembro de 1994

Ao final da passagem pela Fazenda, Ciro foi estudar na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Na volta ao Brasil, dedicou os anos seguintes a duas campanhas presidenciais, de 1998 e de 2002. Na primeira, terminou em terceiro lugar. Na seguinte, ficou em quarto.

Após a nova derrota, ele foi convidado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para assumir o Ministério da Integração Nacional em 2003, função que desempenhou por três anos. Em 2006, no PSB, elegeu-se deputado federal pelo Ceará.

Em 2010, seu nome chegou a ser cotado para concorrer à Presidência, mas a ideia não foi levada adiante pelo PSB. Três anos depois, aceitou ser secretário de Saúde do Ceará na gestão do seu irmão, Cid Gomes (PSB, à época). Entre 2015 e 2016, atuou no comando da Transnordestina Logística S/A, subsidiária da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional).

Qual sua trajetória partidária

Atualmente, Ciro é filiado ao PDT, mas outros seis partidos fazem parte do seu currículo político. São eles:

  • PDS : Partido Democrático Social (1982-1983)
  • PMDB : Partido do Movimento Democrático Brasileiro (1983-1990)
  • PSDB : Partido da Social Democracia Brasileira (1990-1997)
  • PPS : Partido Popular Socialista (1997-2005)
  • PSB : Partido Socialista Brasileiro (2005-2013)
  • Pros : Partido Republicano da Ordem Social (2013-2015)
  • PDT : Partido Democrático Trabalhista (2015-até hoje)

A primeira filiação foi em 1982 pelo PDS, nome pelo qual passou a ser chamado o Arena, partido de sustentação do regime militar (1964-1985). Segundo o presidenciável, a filiação à legenda se deu por imposição do pai.

Já no ano seguinte, em 1983, Ciro migrou para o PMDB, que, durante a ditadura (quando se chamava MDB, mesma sigla usada agora), fazia oposição autorizada ao regime. Em 1990, mudou para o PSDB, pelo qual foi eleito governador do Ceará.

Em razão de desentendimentos com o então presidente Fernando Henrique Cardoso, saiu do partido em 1997 e foi para o PPS. Pela legenda, disputou as eleições presidenciais de 1998 e 2002.

“Se tem um político que tem uma linha de vida coerente, sou eu. (…) Pergunto qual político, tirando aqueles que não fizeram seu próprio partido como o Lula, que fez sua própria central sindical, qual o político brasileiro não mudou de partido nos últimos 20 anos? Nenhum. Marina [Silva] esteve em três partidos nos últimos três anos”

Ciro Gomes

em entrevista à BBC em 13 de maio de 2017

Em 2005, ingressou no PSB. Mas, oito anos depois, ele e seu irmão Cid deixaram o partido por discordarem da decisão da direção de romper com o governo Dilma Rousseff (2011-2016) para promover a candidatura à Presidência do então governador pernambucano Eduardo Campos. Ele se candidatou, mas morreu em um acidente de avião em 2014 e foi substituído na disputa por Marina Silva (hoje, na Rede).

Ciro, Cid e Ivo (outro irmão de Ciro, atual prefeito de Sobral) migraram para o Pros, partido criado em 2013. Menos de dois anos depois, porém, em 2015, mudaram novamente, desta vez para o PDT, a atual legenda do trio.

FOTO: EVANDRO TEIXEIRA/WIKICOMMUNS

Ciro Gomes, então governador do Ceará, e Lula no Palácio do Cambeba

Ciro Gomes, então governador do Ceará, e Lula no Palácio do Cambeba

Como se posicionava nas eleições de 2018

Ciro Gomes foi o candidato do PDT à Presidência nas eleições de 2018, numa chapa pura formada com a senadora Kátia Abreu (hoje, no PP, o Progressistas). A dupla deixou o primeiro turno em terceiro lugar, com 12,47% dos votos .

Naquele ano, Ciro escancarou suas divergências com o PT ao não embarcar na candidatura de Fernando Haddad, que avançou para o segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL, à época) após Lula ter sido impedido de concorrer , em setembro. Na reta final da campanha, o pedetista embarcou para a Europa e voltou às vésperas da votação . Na primeira entrevista depois do pleito, ao jornal Folha de S.Paulo, disse: “não declarei voto ao Haddad porque não quero mais fazer campanha para o PT ”. Ele culpa o partido por sabotar alianças que tentou fazer em 2018 ainda no primeiro turno.

O PDT anunciou um “apoio crítico” a Haddad no segundo turno . E Ciro, apesar de não gostar de tocar no assunto, já revelou algumas vezes que, contra Bolsonaro, foi no candidato petista. Logo depois de deixar a disputa, inclusive, chegou a dizer “ ele não, sem dúvida ”, excluindo a hipótese de um possível voto no capitão da reserva .

“Uma coisa eu posso adiantar logo, como vocês já viram: minha história de vida é uma história de vida de defesa da democracia e contra o fascismo. (…) Ah, ele não, sem dúvida”

Ciro Gomes

candidato do PDT à Presidência, durante entrevista após a confirmação do segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, em 2018

O que fez desde 2018

Desde o último pleito presidencial, o ex-governador do Ceará reitera críticas ao PT e tenta se apresentar para as eleições de 2022 como alternativa a Lula e a Bolsonaro (PL, o Partido Liberal) – a quem também tece comentários negativos, já o tendo chamado de “ladrão de rachadinhas”, “bandido” e “nazista” .

Entretanto, a dita “terceira via” foi, gradativamente, implodindo , restando apenas Ciro Gomes e Simone Tebet (MDB) como opções para os eleitores nem-nem, aqueles que não topam tanto o candidato petista quanto o atual presidente da República. A questão, porém, é que até o momento nenhum deles chegou aos dois dígitos nas pesquisas eleitorais.

Divulgado em 15 de agosto deste ano, o levantamento do Ipec , por exemplo, trouxe o pedetista somando 6% das intenções e a emedebista 2%. Pela margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais para mais ou para menos, ambos estão empatados. Enquanto Lula apareceu liderando a corrida ao Palácio do Planalto, com 44% das intenções de voto, e Bolsonaro, que tenta a reeleição, veio em segundo lugar, com 32% do total.

Além disso, Ciro e PDT chegaram à campanha isolados, sem apoio. Em entrevista ao SBT News, o candidato disse que o isolamento é uma opção sua e consequência das bandeiras defendidas por ele.

Ataques aos opositores, sobretudo a Lula e a Bolsonaro, e o foco no marketing, principalmente nas redes sociais, têm norteado a campanha de Ciro Gomes. Em abril de 2021, ele anunciou a contratação do jornalista e marqueteiro João Santana para coordenar a comunicação do partido. Tido como um “craque” do marketing político, Santana tem profundo conhecimento sobre o PT. Foi Santana o responsável pelo marketing das campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e de Dilma Rousseff em 2010 e 2014 – todas vitoriosas.

Esse passo, contudo, gera dúvidas. Analistas apontam que a contratação do marqueteiro dificulta o uso do discurso anticorrupção no qual Ciro vem apostando para atacar o Partido dos Trabalhadores. Isso porque João Santana foi condenado pela Operação Lava Jato em 2017 por lavagem de dinheiro, depois de ter passado um período preso preventivamente em 2016. Ele fechou acordo de delação premiada e cumpriu um ano e meio de pena em prisão domiciliar.

No dia 15 de agosto deste ano, Ciro esteve no centro do Roda Viva , da TV Cultura, e, lá, falou que esta será sua derradeira disputa à Presidência da República. “A minha candidatura está posta porque é necessária. É a única alternativa de mudança do modelo econômico e de governança política. É a quarta e última vez que eu vou competir. Se eu for eleito, vou abrir mão da reeleição. Se eu não for eleito, eu terei dado minha contribuição”, disse no programa.

Os pontos fracos

O TEMPERAMENTO

O estilo “Ciro de ser” é um ponto marcante do presidenciável. Considerado instável por uns e autêntico por outros, com frequência ele fica às voltas com polêmicas causadas por declarações controversas. Até hoje, por exemplo, o pedetista é lembrado por ter dito, em 2002, que o papel na campanha de sua então esposa, a atriz Patrícia Pillar, era dormir com ele .

A ESTRUTURA PARTIDÁRIA

Com pouquíssimos aliados, a campanha do candidato pode ter dificuldades para se estruturar pelo país , além de somar um tempo diminuto no horário eleitoral gratuito, com aproximadamente 50 segundos por bloco e 2 inserções diárias , de acordo com a projeção da Folha de S.Paulo.

ALTA REJEIÇÃO

Além de ser o terceiro colocado nas pesquisas eleitorais, o ex-governador e ex-ministro ocupa, também, a terceira colocação entre os candidatos mais rejeitados do pleito de 2022, com 18% de rejeição , como mostrou o mais recente levantamento do Ipec. Ele vem atrás de Lula, que tem 33% e Bolsonaro, com 46%.

Os pontos fortes

A AUSÊNCIA DE SUSPEITAS

Ciro não é citado em investigações de corrupção , tema que tende a aparecer durante a campanha à Presidência, assunto, aliás, que é bastante caro ao eleitor num momento de polarização pelo qual passa o Brasil.

NOME LIGADO À “TERCEIRA VIA”

Ao lado de Simone Tebet, Ciro ainda tem o nome associado à “terceira via” , o que deve atrair alguns votos de eleitores que não topam, de jeito nenhum, os dois favoritos na campanha eleitoral até agora, Lula e Bolsonaro.

O VÍNCULO COM O NORDESTE

Assim como Lula, o postulante pedetista ao Palácio do Planalto é conhecido em boa parte do Nordeste, região que concentra 27,11% do eleitorado brasileiro , segundo dados da Justiça Eleitoral.

Quem é sua vice

FOTO: DIVULGAÇÃO/PDT

Ciro Gomes anuncia Ana Paula Matos para a vice-presidência na chapa do PDT

Ciro Gomes anuncia Ana Paula Matos para a vice-presidência na chapa do PDT

Em 5 de agosto de 2022, último dia previsto para a definição das chapas presidenciais, o PDT anunciou Ana Paula Matos como a vice de Ciro Gomes.

Filiada ao partido, a vice-prefeita de Salvador, que também é advogada, professora e servidora concursada da Petrobras, compõe a candidatura pedetista puro-sangue. Nas redes sociais , Ciro afirmou, ao revelar a escolha da vice, que ela “segue a tradição das mulheres baianas que fizeram e fazem história com muita força e coragem”.

O PDT chegou a negociar uma candidatura com o PSD (Partido Social Democrático) e com o União Brasil, mas não teve êxito nas tentativas. A sigla avaliou os nomes da deputada estadual Juliana Brizola (RS); da ex-reitora da USP (Universidade de São Paulo) Suely Vilela; da deputada estadual no Rio de Janeiro Martha Rocha; e de Isabella de Roldão, vice-prefeita do Recife (PE). A campanha considerava ainda a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), tida como a “vice dos sonhos”. Segundo apuração da CNN , Matos foi sondada para ocupar o posto na candidatura apenas um dia antes do anúncio.

A agora candidata tem 44 anos e estudou finanças e administração. Iniciou a trajetória na gestão municipal como diretora geral de Educação, em 2013. Depois, foi chefe de gabinete da vice-prefeitura, presidente do instituto de previdência municipal, secretária das Prefeituras-Bairro, de Promoção Social e Combate à Pobreza e de Governo de Salvador. Em 2020, foi eleita vice-prefeita da capital baiana na chapa com Bruno Reis (DEM, Democratas).

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