Expresso

Como evitar que o meu consumo prejudique a Amazônia?

Mariana Marques

27 de setembro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h44)

Especialistas em desmatamento e economia sustentável dizem como pessoas de outras regiões podem saber se suas escolhas têm impacto negativo na preservação da floresta

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FOTO: NACHO DOCE/REUTERS

Área desmatada ilegalmente em Itaituba/PA

Área desmatada ilegalmente em Itaituba/PA

A Amazônia está no centro dos debates internacionais sobre a preservação ambiental e crise climática. Nos últimos anos a floresta tem enfrentado cada vez investidas que visam a exploração dos seus recursos naturais , como a grilagem (invasão de terras públicas) e exploração ilegal de madeira .

Esses recursos muitas vezes são convertidos ilegalmente em matéria-prima para produtos que podem estar nas prateleiras do supermercado mais próximo. Entender como o que é comercializado no país afeta a floresta pode ajudar a compreender as dimensões da exploração da Amazônia e evitar que escolhas de consumo, mesmo distantes da região, prejudiquem a floresta e suas comunidades.

A Ponto Futuro , editoria do Nexo dedicada a pensar futuros possíveis, convidou dois profissionais com experiência na preservação da região para comentar o papel que consumidores podem ter ao tentar evitar que suas decisões não contribuam para esse problema.

  • Paulo Moutinho, cofundador e pesquisador sênior do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia)
  • Marcus Biazatti, engenheiro florestal e líder da Iniciativa Estratégica Inatú Amazônia do Idesam, organização não-governamental que atua com economia sustentável na região

‘Consumidor pode exigir saber a origem do produto’

Paulo Moutinho

pesquisador sênior do IPAM

“É fundamental que os brasileiros tomem conhecimento do grande problema que é o desmatamento na Amazônia. Essa é uma das formas mais importantes que todos nós, especialmente quem está na cidade ou um pouco mais distante da região amazônica, entendermos quais são os problemas principais que existem na região. Quais são as ligações desses problemas, principalmente o desmatamento ilegal e a invasão de terra pública, com os produtos que chegam até o supermercado onde você compra.

A origem desses produtos precisa ser cada vez mais verificada. Há muita produção, por exemplo, de carne, grãos e outros outros tipos de alimento em terras que foram griladas [áreas invadidas e depois reivindicadas por meio de documentos falsos]. O consumidor final pode buscar ou exigir do seu supermercado, do seu fornecedor, a origem e certificação do produto que você está adquirindo.

Também é importante se informar cada vez mais sobre a dinâmica da ilegalidade na Amazônia. Hoje essa ilegalidade ganhou um reforço do crime organizado, do garimpo de ouro e do desmatamento ilegal. Portanto é super necessário que cada cidadão brasileiro possa entender o que está ocorrendo, se informar sobre isso, para que ao escolher governantes, ao escolher membros do legislativo, escolha aqueles que tenham consciência sobre essa questão socioambiental. No sentido de combatê-las, no sentido de evitar a destruição socioambiental e o avanço em cima do patrimônio público aqui na Amazônia, principalmente sobre o conjunto de florestas, do conhecimento milenar dos povos indígenas e comunidades tradicionais, da biodiversidade que está lá. Isso tudo precisa ser defendido especialmente num planeta em aquecimento.

Nós vamos precisar da Amazônia, vamos precisar do conhecimento que lá está, dos seus povos milenares. Nós vamos precisar da biodiversidade, da diversidade biológica, para enfrentar essa grande crise climática em que o mundo está entrando e que o Brasil faz parte. Seja como um país que pode ajudar bastante ou seja como um país que pode ser muito afetado por essa crise.

Então é fundamental entender essas questões relativas à destruição da Amazônia e os meios para a sua preservação e o seu desenvolvimento sustentável.”

‘Um critério é incentivar negócios de impacto positivo’

Marcus Biazatti

engenheiro florestal do Idesam

“A perda de florestas pelo desmatamento ilegal e a desigualdade social somadas gera um modelo de desenvolvimento da Amazônia que perpetua uma base insustentável e reforça o ciclo de pobreza e impactos ambientais negativos afetando a economia de todo o país. No contexto individual, todos somos consumidores, e precisamos tomar decisões para um consumo sustentável.

É importante pesquisar sobre as marcas e produtos, além de verificar se as mesmas oferecem rastreabilidade do produto, ou seja, se ofertam ao comprador a possibilidade de identificar a origem da matéria-prima.

Em março de 2022, por exemplo, a Associação Agroextrativista das Comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã recebeu, do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), a certificação para Manejo Florestal e de Cadeia de Custódia FSC®. Essa credencial se enquadra como uma excelente ferramenta que garante o manejo da floresta de forma ordenada e dá confiabilidade de que o produto possui origem legal e sustentável.

Outro critério é incentivar negócios de impacto positivo, ou seja, empreendimentos que mantenham a floresta em pé e gerem renda para as comunidades. O Idesam, por exemplo, coordena a AMAZ aceleradora de impacto, que conta com um fundo de financiamento híbrido (blended finance) de R$25 milhões para investimento em negócios de impacto nos próximos cinco anos. Esses empreendimentos passam por diligências, visitas de campo onde conferimos, in loco, se tudo o que coletamos até então nas entrevistas e documentos acontece de fato. Cruzamos todos os dados e determinamos se a empresa tem compromisso e modelo de negócio que impactam positivamente o meio ambiente e a sociedade. Além disso, buscamos referências de parceiros e verificamos a situação da empresa junto à legislação, se há passivo trabalhista ou multas ambientais relacionadas.”

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