Relógios são metáforas. Relógios de pulso ou de parede, de sol ou de água, não importa. Todos eles são metáforas. O dicionário define “metáfora” como “designação de um objeto ou qualidade mediante uma palavra que designa outro objeto ou qualidade que tem com o primeiro uma relação de semelhança”. Dito de outro modo: a metáfora acontece quando alguém repara que duas coisas que existem no mundo são semelhantes, mas não idênticas, e decide chamar uma pelo nome da outra. Como na canção de Marina Lima, que traz duas metáforas juntas, para falar de uma mesma coisa (a letra é parceria com Antonio Cicero):
[…] seres como nós
Sujeitos a jogar
As fichas todas de uma vez
Sem temer naufragar.
A ideia de “viver a vida” e “correr riscos” se transforma, pela via da metáfora, na ideia de “jogar fichas”, e na de “navegar sem medo”. Cada uma empresta suas particularidades à ideia original e, com isso, o texto ganha liberdade, ou ganha interesse e graça.
Se não fosse pelas possibilidades das metáforas, não haveria por que juntar fichas e navios. Afinal, o que um tem a ver com o outro? Nada. Ou nada a princípio. Mas como metáfora para “se arriscar”, têm tudo a ver — a linguagem metafórica não precisa se prender no que existe só a princípio.
Segundo Aristóteles, é com a metáfora que descobrimos coisas novas — descobrimos coisas novas no meio de coisas que achávamos que eram velhas e conhecidas, como a vida, navios, fichas e tantas outras mais.
Sofia Nestrovski
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