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Movimento Pessoas à Frente
Transformar a gestão de pessoas no setor público com dados
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No coração da administração pública estão as pessoas. São elas que transformam políticas em ações, ideias em resultados e desafios em soluções. O Estado brasileiro é responsável por garantir políticas públicas para toda a população, e não é à toa que a sociedade exige, cada vez mais, uma gestão pública efetiva e um corpo de servidores representativo. Mas quem são essas pessoas? Qual é o perfil dos responsáveis pela garantia de saúde, educação, transporte público, assistência social e tantos outros serviços públicos essenciais no dia a dia de todos os brasileiros e brasileiras?
Gerir o principal ativo do setor público brasileiro — as pessoas — é uma tarefa dificultada pela ausência de informações confiáveis sobre a composição dessa força de trabalho, especialmente em estados e municípios. A falta de dados básicos e recursos adequados para a gestão conhecer e agir melhor sobre seus próprios servidores explicita a escassez de uma cultura analítica que permita decisões com base em evidências. Essa lacuna compromete a capacidade de planejamento e impede uma atuação estratégica que possibilite a formulação de políticas públicas mais justas, diversas e de maior impacto. Um grande exemplo nesse sentido é a importância de uma burocracia representativa.
Por mérito de iniciativas como o Painel Estatístico de Pessoal, do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), ou do Censo das Secretárias, realizado por um comitê gestor de organizações do terceiro setor, sabemos que pessoas negras e mulheres ocupam a minoria dos cargos de liderança nos três níveis da federação brasileira. As mulheres, por exemplo, que são 51,5% da população, ocupam em torno de 39% dos cargos na alta liderança da administração pública federal, e 28% das secretarias tanto nos estados como nos municípios.
No coração da administração pública estão as pessoas. São elas que transformam políticas em ações, ideias em resultados e desafios em soluções
Dados como estes iluminam e viabilizam ações importantes na forma de políticas afirmativas para acesso, ascensão e permanência das pessoas de categorias sub-representadas no serviço público. A população brasileira, inclusive, apoia que assim o seja: segundo pesquisa Datafolha encomendada pelo Movimento Pessoas à Frente no último ano, 56% dos entrevistados afirmaram que os servidores públicos não são representativos da sociedade e desconhecem os desafios enfrentados pela população, em linha com a percepção dos 86% que concordam com ações para promover a igualdade de gênero no serviço público e dos 89% que dizem o mesmo em relação à diversidade racial.
Diante desse cenário, o Movimento Pessoas à Frente criou o Grupo de Trabalho (GT) de Transparência de Dados de Gestão de Pessoas no Setor Público, reunindo mais de 40 especialistas, acadêmicos, gestores públicos e representantes de órgãos de controle e do terceiro setor. Juntos, dedicaram-se a analisar os principais desafios, problemas e obstáculos para a promoção da transparência de dados de pessoal no setor público brasileiro.
O GT trabalhou durante treze meses em um processo coletivo e plural, voltado à formulação de propostas, recomendações e diretrizes para que se desenvolva uma cultura de transparência e de análise de dados como pilares fundamentais de funcionamento das gestões públicas. Como um de seus resultados finais, o Movimento Pessoas à Frente publicou o Guia de Referência para Transparência e Uso de Dados em Gestão de Pessoas. O documento propõe ações prioritárias para serem implementadas nas organizações públicas, organizadas de forma a facilitar o planejamento passo a passo e disponibilizando ferramentas de apoio.
É importante destacar que foram levantados pontos fundamentais como alavanca das discussões durante os encontros do Grupo de Trabalho. Conceitualmente, a transparência vai além da publicação de informações, se configurando como um processo altamente indutor de controle social e accountability, podendo levar as organizações a um amadurecimento. A transparência é, portanto, um ponto de partida, mas não o destino final. Para que os dados gerem impacto real, é necessário adotar uma cultura analítica que disponibilize os trabalhos de coleta, análise e disponibilização de dados a serviço de quem os acessa e as razões pelas quais os acessa.
Também é fundamental estabelecer uma governança de dados. Isso significa criar uma estrutura que identifique os dados necessários, os usuários envolvidos e as lacunas existentes, além da estruturação de processos que os transformem em informações sobre o perfil dos servidores, competências profissionais, recursos para organizar e alocar a equipe e indicadores de resultado. Assim, é possível implementar, monitorar e avaliar as políticas de forma eficaz, seguindo a legislação e garantindo os resultados esperados.
Portanto, vale apresentar aqui as cinco ações prioritárias destacadas no documento como convite à leitura:
A transparência ativa emerge como uma ferramenta essencial para fortalecer a confiança pública, permitindo que diferentes atores sociais como governos, academia, imprensa, organizações da sociedade civil e cidadãos utilizem as informações para formular políticas, tomar decisões embasadas em evidências e conduzir pesquisas relevantes. Promovê-la junto a uma cultura analítica transcende a esfera técnica; é, sobretudo, um compromisso ético com um futuro mais inclusivo, efetivo e justo para o serviço público e para toda a sociedade.
Simone Ramos é Analista de Projetos da República.org e integrante da Secretaria Executiva do Movimento Pessoas à Frente, é graduada em serviço social pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e pós-graduada em gestão e administração pública pela UFF (Universidade Federal Fluminense). Sua trajetória profissional inclui ampla experiência em projetos intersetoriais e políticas públicas, com destaque para sua atuação como coordenadora de projetos especiais na Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, onde liderou o desenvolvimento e a gestão de iniciativas estratégicas. Além disso, possui sólida experiência no assessoramento ao legislativo municipal e no terceiro setor, com foco em captação de recursos e fortalecimento de parcerias institucionais.
Mirian Bittencourt é diretora de Governança e Inteligência de Dados na Secretaria de Gestão de Pessoas do MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos). Está à frente do Observatório de Pessoal, da Pesquisa Vozes do Serviço Público e das iniciativas em People Analytics do Governo Federal. Atuou como Coordenadora do GT de Transparência de Dados de Gestão de Pessoas junto ao Movimento Pessoas à Frente.
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Movimento Pessoas à Frenteé uma organização da sociedade civil, plural e suprapartidária. Com base em evidências, ajuda a construir e viabilizar propostas para aperfeiçoar políticas públicas de gestão de pessoas no setor público, com foco em lideranças. A rede de membros do Movimento Pessoas à Frente une especialistas, parlamentares, integrantes dos poderes públicos federal e estadual, sindicatos e terceiro setor, que agregam à rede visões políticas, sociais e econômicas plurais.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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