O aplicativo que ensina nheengatu, língua geral da Amazônia
Mariana Vick
29 de abril de 2024(atualizado 02/05/2024 às 18h45)Ferramenta trabalha memória e construção de vocabulário a partir de imagens e áudios gravados por professor. Idioma está entre os 274 de origem indígena falados no Brasil
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Tela do aplicativo Nheengatu app, que ensina o idioma
O Nheengatu app é um aplicativo que ensina nheengatu, idioma indígena originário do tupi com influências do português que é conhecido como língua geral da Amazônia por ter sido o mais falado na região até o fim do século 19.
Lançado em 2021 por Suellen Tobler, pesquisadora e desenvolvedora de tecnologias da informação e comunicação, o aplicativo contém exercícios que trabalham a memória e a construção de vocabulário. Imagens, áudios e testes com seleção de palavras e frases ajudam a assimilar o idioma. O acesso é gratuito e pode ser feito em qualquer navegador, além de vários dispositivos móveis.
O nheengatu é uma das 274 línguas indígenas faladas no Brasil. Esses idiomas enfrentam desafios para se perpetuar, considerando o contexto de cada vez mais contato das populações indígenas com a sociedade nacional (ou seja, não indígena, falante de português). O aplicativo tem o objetivo de contribuir para a preservação do nheengatu.
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etnias falam 274 línguas indígenas no Brasil
A ferramenta contempla, por enquanto, apenas a variação Nheengatu Tapajowara, falada na região do Baixo Tapajós, no Pará. Os áudios dos exercícios são gravados por George Borari, professor do idioma na Escola Indígena Borari de Alter do Chão. Estima-se que o aplicativo tenha cerca de 2.200 usuários.
Tobler contou ao site G1 em março que a ferramenta tem sido usada em escolas indígenas. Depois do lançamento, outros povos se interessaram em também fazer um aplicativo para o ensino de suas línguas, segundo ela. Diversas comunidades consideram hoje que os principais guardiões desses idiomas são os idosos, que, por várias razões, não têm conseguido repassar o conhecimento aos jovens.
A ferramenta é um projeto contemplado pela lei de incentivo cultural Aldir Blanc. Os conteúdos se baseiam nas referências de dois livros: a “Apostila do curso de língua geral (nheengatu)” da USP (Universidade de São Paulo) e o “Nheengatu Tapajowara”, produzido na Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará).
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O nheengatu surgiu a partir de um “problema” da expansão jesuíta no século 17 na Amazônia. Havia naquela época centenas de línguas indígenas de diferentes etnias na região da floresta. O tupi antigo falado pelos tupinambás foi então adaptado para um idioma comum, através da mistura com o português, para fins de catequização.
A língua criou um um elo entre indígenas, negros escravizados e colonizadores. A variedade de idiomas locais diminuiu depois de sua criação. Disseminada, ela se tornou a língua mais falada da Amazônia até o fim do século 19, quando foi superada pelo português.
O nheengatu foi criminalizado em 1835, após a chamada Revolta da Cabanagem (1835-1840), no Norte do Brasil. Pessoas indígenas, negras e pobres lideraram o movimento na antiga província do Grão-Pará, em protesto contra a grave situação socioeconômica da região. Um dos motivos que viabilizaram a revolta foi a comunicação entre os participantes.
Apesar de não ser tão popular quanto antes, o nheengatu ainda é muito falado em algumas partes da Amazônia. Para moradores da região, o idioma se tornou um símbolo de resistência. Professores e escritores criaram a Academia da Língua Nheengatu em 2022, enquanto, em 2023, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) traduziu a Constituição Federal para a língua.
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