O que a ciência diz sobre as frequências 741
Pedro Bardini
18 de novembro de 2024(atualizado 18/11/2024 às 21h13)Vibrações que supostamente promovem o bem-estar ficaram populares na internet. Especialistas em saúde explicam se elas são eficazes
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Representação gráfica de ondas sonoras
Diversos posts na internet compartilham dicas caseiras de como afastar as “energias negativas”. Algumas delas envolvem tapar o umbigo – fenômeno que se popularizou durante o BBB22, com a participante Jade Picon –, acender um incenso, tomar banhos energéticos e espalhar sal grosso pela casa.
Recentemente, outra dica foi adicionada à lista: ouvir músicas na frequência 741. Uma série de vídeos e conteúdos na internet contam sobre a influência que o hábito pode exercer no bem-estar.
71 mil
é a quantidade de curtidas de uma playlist feita pelo Spotify que reúne 58 músicas na frequência 741
Contudo, segundo psicólogos e especialistas da saúde, é improvável que qualquer frequência sonora esteja associada a “liberar energias negativas”. Elas podem ajudar no relaxamento, mas não há evidências de que sejam capazes de afastar pensamentos negativos.
A frequência é uma característica das ondas sonoras. Ela é responsável por definir a altura do som na unidade “hz” (hertz), e pode ser dividida em três principais grupos:
A unidade “hz” das frequências é responsável por medir o número de ciclos de uma onda sonora por segundo, ou seja, a variação da vibração do som. Frequências altas possuem mais ciclos por segundos, por isso vibram mais e, consequentemente, são consideradas agudas.
O ser humano é capaz de ouvir ondas dentro do intervalo de 20 a 20 mil hz. Quando as frequências são inferiores a 20 hz, elas são chamadas de infrassom, que são muito graves. O contrário, muito agudo, é chamado de ultrassom. Alguns animais, como golfinhos, são capazes de ouvir e se comunicar em ultrassom.
A frequência de 741 hz é considerada média. Por isso, as faixas que integram as playlists apresentam um som contínuo, que vibra na frequência média, por volta dos 741 hz, do início ao fim da música, sendo intercalado com diferentes sons ambientes, que podem variar.
Na maior parte das faixas, além da vibração – que se assemelha a um zumbido tranquilo – há aparições de sons metálicos, como se fossem estalos, ou notas de piano. Não há letras, nem acréscimo de outros ritmos. Grande parte das faixas são produzidas de forma sintética ou eletrônica, através de softwares para criação de música. Também é possível reproduzir as vibrações através de tigelas ou harpas de cristal.
A frequência 741 faz parte do que, na internet, é chamado de “frequências Solfeggio”. Além da 741, existem oito outras vibrações em frequências específicas, cujas “propriedades” são recomendadas por posts na internet e praticantes de meditação para diferentes situações físicas e mentais. A 174 hz, por exemplo, é recomendada para aliviar dor física e estresse; a 471 hz é conhecida por ajudar a lidar com traumas; a 963 hz é indicada para aumentar a “energia positiva”.
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Em português, solfejo (tradução de Solfeggio) é uma técnica de canto usada para praticar as notas musicais em diferentes escalas e ritmos.
A relação do termo solfejo com as frequências específicas, bem como suas “propriedades” médicas e espirituais são incertas. Enquanto alguns sites que não citam a fonte da informação as relacionam com religiões ocidentais, outros dizem que, apesar de existirem e serem usadas desde a antiguidade, as “frequências Solfeggio” foram resgatadas por médicos no século 20, que as utilizaram para tratamentos físicos e mentais – não há registros oficiais sobre os médicos nem sobre os tratamentos.
Segundo Ian Le Guillou, PhD em bioquímica pela Universidade de Cambridge (Reino Unido) e editor do site americano Science Feedback, que checa informações virais nas redes sobre ciência, as “frequências Solfeggio não têm base científica” e “não há evidências de que elas tenham efeito no corpo”.
Le Guillou acrescenta que os números das frequências foram retirados de versículos bíblicos e associados a tratamentos relacionados a pseudociência pelo fitoterapeuta Joseph Puleo, na década de 1970.
No texto, Le Guillou contesta que a frequência 741 hz possa eliminar “energia negativa”. Ele explica que, se entendida como uma atitude, não há evidências científicas de que essa frequência específica reduza perspectivas negativas.
Estudos que analisam diferentes estímulos de batidas sonoras no cérebro conseguiram provar que uma técnica específica, que combina tons executados separadamente em cada ouvido – e de diferentes frequências sonoras, sem relação com as “Solfeggio” –, pode reduzir a ansiedade em níveis baixos.
Pesquisadores de 2022 concluíram, em artigo publicado no periódico nacional americano PubMed Central, que cantar, dançar, ouvir música e fazer musicoterapia melhoram significantemente a qualidade de vida das pessoas, tanto no aspecto mental quanto físico. Por exemplo, a música pode ajudar indivíduos com doença de Parkinson a andar.
No entanto, ainda não há um consenso científico sobre uma melhor intervenção, gênero ou “dose” de música que funcione genericamente para a maioria das pessoas.
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