Como macacos-prego transmitem tradições entre si
Pedro Bardini
15 de dezembro de 2024(atualizado 16/12/2024 às 17h25)Estudo analisou 70 animais de dois grupos diferentes do Piauí. Observação e socialização entre indivíduos impactam a transmissão cultural
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Macacos-prego no Rio de Janeiro
Pesquisadores da Universidade de São Paulo, em parceria com a Universidade de Durham, no Reino Unido, passaram um ano observando o comportamento de duas populações de macacos-prego do Piauí. O objetivo era entender o nível de tolerância social dos animais enquanto aprendiam novas habilidades.
De acordo com os autores do artigo, “a tolerância social determina quem tem permissão para se aproximar de quem e acessar recursos como comida ou informação social”, bem como pode ser considerada um dos pilares para a transmissão de tradições culturais.
70
foi o número de macacos que participaram do estudo. Desses, 40 pertenciam à população de macacos-prego de Jurubeba e 30 da Pedra Furada
Apesar do estudo ter sido realizado entre 2012 e 2013, os resultados só foram publicados em 2024, na revista científica PNAS (publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos). A pesquisa contou com o auxílio de um software de estatística para mapear o vínculo social entre os macacos durante o momento de aprendizagem.
Para observar a interação dos macacos em momentos de aprendizagem, e sua relação com a transmissão cultural, os pesquisadores colocaram uma caixa de acrílico especialmente projetada para conter alimentos no meio do habitat dos animais, que então deveriam aprender a como abri-la.
A caixa projetada tinha dois tipos de mecanismos de abertura: puxar uma alça verde ou levantar uma placa azul. Qualquer uma das técnicas dava acesso direto aos alimentos.
Os macacos de Jurubeba e da Pedra Furada foram observados separadamente. Por isso, um indivíduo de cada grupo foi treinado para abrir a caixa usando uma das técnicas, servindo como “modelo” para os outros.
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Depois do grupo observar o macaco “modelo”, os demais o imitavam, conseguindo abrir a caixa individualmente.
8 mil
foi a quantidade de vezes que os macacos-prego conseguiram abrir a caixa
Foi observado que alguns macacos descobriram individualmente a outra forma de abrir a caixa. Posteriormente, essa informação foi passada para demais indivíduos do grupo. No entanto, de maneira geral, eles preferiram a técnica utilizada pelo macaco “modelo”.
O comportamento dos animais foi registrado em vídeo durante o experimento. Dados como quem abria a caixa, qual técnica usava, quanto tempo levava e quem os observava foram documentados nos vídeos.
Além disso, os pesquisadores mapearam as interações sociais dos macacos em diferentes contextos (brincadeiras, alimentação e limpeza), criando uma “rede” para entender a influência dos relacionamentos entre os animais. Todos esses dados foram colocados num programa de estatística.
O programa de estatística empregado no estudo funciona a base de uma técnica chamada NBDA (“Análise de Difusão Baseada em Rede”, em tradução do inglês), que utiliza algoritmos para modelar a propagação de informações ou comportamentos em redes de indivíduos.
O programa foi usado para determinar se a propagação da habilidade de abrir a caixa se dava por aprendizado social ou individual, além de traçar uma “rede” que mapeasse as relações entre os macacos-prego.
Fatores dos animais como sexo, idade, posição social e nível de neofobia – medo de objetos novos, como a caixa projetada – foram considerados para avaliar a influência no aprendizado.
Os pesquisadores também analisaram se os macacos que ainda não haviam aprendido a abrir a caixa demonstravam preferência por observar certos indivíduos, como os bem-sucedidos.
A pesquisa revelou que os macacos-prego passam tradições ao observar uns aos outros, especialmente os mais bem-sucedidos. No experimento, a observação direta desempenhou um papel fundamental na propagação da habilidade de abrir a caixa.
Os pesquisadores ainda observaram que no caso do grupo de Jurubeba, o sexo influenciou a transmissão de informações, no qual os machos tiveram taxas de aprendizagem mais altas do que as fêmeas.
A professora de antropologia evolutiva na Universidade de Durham Rachel Kendal explicou a diferença entre os sexos dos macacos de Jurubeba, “os machos tendem a usar ferramentas mais do que as fêmeas nesta espécie. Portanto, podem ser considerados mais proficientes”. Por isso, eles também são considerados os “modelos” para os demais.
Em entrevista ao Jornal da USP, Kendal esclareceu os resultados do experimento, do qual fez parte. “O estudo indica que os macacos-prego provavelmente têm uma estratégia de aprendizagem social de copiar machos bem-sucedidos”, disse.
O estudo demonstrou que a tolerância social é outro elemento chave para a transmissão de tradições culturais em macacos-prego. Segundo os autores, os resultados podem contribuir para a compreensão da evolução cultural em primatas, incluindo os humanos.
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