O que é coronelismo?
Da Redação
21 de outubro de 2024(atualizado 28/10/2024 às 13h38)Saiba de onde vem o termo. Entenda a origem da prática política comum na Primeira República. E veja como era o controle dos votos
Francisco Heráclio, o Leão das Varjadas, considerado o último dos coroneis, morreu nos anos 70
Para entender o coronelismo, uma prática política da Primeira República (também conhecida como República Velha), é preciso remontar às suas origens, ainda no Império.
Com a abdicação e volta de imperador D. Pedro 1º a Portugal em 1831, o Brasil entrou em seu Período Regencial, que se estenderia até 1840. Foi nessa época que o Brasil criou sua Guarda Nacional, organizada nas províncias e nos municípios. A patente mais alta dessa guarda era a de coronel. O posto era comumente ocupado pelo principal proprietário de terra e de escravos de determinada região.
O Período Regencial acabou em 1840, com a antecipação da maioridade de D. Pedro 2º. “[Na época], a guarda funcionava como milícia, como força militar, fortemente associada aos proprietários de terra e aos segmentos sociais que controlavam politicamente as populações ao longo do Império”, disse ao Nexo Renato Lessa, professor de filosofia política.
“O Estado delegava a potentados [indivíduos poderosos] locais o poder de polícia, o poder judiciário. O potentado local era o representante do Estado e isso, muitas vezes, era feito em termos bastante informais. De modo que o Império lega para a República, proclamada em 1889, uma tradição na qual os potentados locais exercem, de fato, os poderes políticos”, afirmou Lessa.
A figura do coronel da Guarda Nacional foi criada no Império, mas a prática política do coronelismo começa de fato no Brasil com a Proclamação da República, em 1889. Os proprietários de terras mantiveram suas patentes de coronel e o controle sobre a política local, mesmo que as eleições fossem repletas de restrições (uma parcela ínfima da população votava).
Os coronéis-fazendeiros mantinham seu poder a partir de um forte autoritarismo. Controlavam, assim, os votos da população (a partir do voto de cabresto, conferindo quem votava em quem, já que o voto não era secreto; e dos currais eleitorais, com jagunços oferecendo favores e até coagindo eleitores para garantir apoio em detrminadas regiões).
“O coronel é, sobretudo, um elemento de intermediação. Ele controlava para baixo e negociava para cima. Quanto maior era contingente eleitoral que ele dispunha na sua mão, maior era a capacidade de chantagem que ele tinha com relação aos outros atores políticos envolvidos no processo de competição política. Essa figura foi fundamental na Primeira República, que foi uma república oligárquica”, disse Lessa ao Nexo.
Um livro de referência sobre o tema é o “Coronelismo, enxada e voto”, de Victor Nunes Leal.
Inaugurado com a República, o coronelismo começou a declinar a partir da revolução (ou golpe) de 1930, quando Getúlio Vargas passou a centralizar o poder com a nomeação de interventores regionais. A ditadura do Estado Novo, em 1937, enfraqueceu ainda mais a prática.
“Ele [coronelismo] entrou em declínio no sentido de que perdeu algumas características folclóricas que mantinha durante o período oligárquico. O eleitorado aumentou, o que, em tese, torna seu controle um pouco mais difícil. Mas, por outro lado, [o coronelismo] continuou, com potentados que detêm não necessariamente fazendas ou poder econômico agrário, mas detêm recursos determinados que permitem que controlem uma quantidade suficiente de votos para propiciar cenários de troca”, disse Lessa.
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